A trepadeira madressilva (Lonicera japonica), a paina ou capim-dos-pampas (Cortaderia selloana), o beijo (Impatiens walleriana), a banana-flor (Musa ornata) e outras plantas são admiradas por sua beleza, porém o que muitas vezes não se sabe é que esses ornamentos naturais que enfeitam casas em vasos e jardins são espécies exóticas invasoras e ameaçam a biodiversidade brasileira.
Espécies Exóticas invasoras são aquelas retiradas de seu hábitat natural e introduzidas, intencionalmente ou não, em um novo ambiente, onde ameaçam ecossistemas, habitats ou espécies. “Infelizmente, as espécies exóticas invasoras são a segunda grande causa de perda da biodiversidade, juntamente com o aquecimento global”, diz Silvia Ziller, coordenadora do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da The Nature Conservancy – TNC. A primeira causa é a perda de hábitats naturais causada diretamente pelo homem.
Muitas espécies são comercializadas como plantas ornamentais ou como bichos de estimação sem que o consumidor final, ou até mesmo o vendedor ou criador, saibam que se trata de uma espécie invasora, e que exige muitos cuidados.
Pensando em melhorar o conhecimento das pessoas sobre o problema, a organização ambiental TNC – The Nature Conservancy criou os Códigos de Conduta Voluntários – conjunto de regras sobre práticas éticas e responsáveis visando promover a conscientização sobre o risco do uso e disseminação de espécies exóticas invasoras. O material é dividido em plantas ornamentais e animais de estimação.
A iniciativa busca o apoio de paisagistas e veterinários, que trabalham no controle da disseminação de espécies invasoras, e da população, que será conscientizada sobre os impactos causados à natureza pela soltura de animais de estimação e/ou pelo cultivo de determinadas plantas ornamentais.
“Os profissionais, como donos de petshops, veterinários, donos de criadouros, precisam estar informados sobre os riscos da criação desses animais, e quem tem um animal de estimação em casa precisa saber que não pode simplesmente soltá-lo na natureza”, diz Silvia.
O mesmo ocorre com as plantas. Os paisagistas muitas vezes optam por espécies invasoras pelo desconhecimento do prejuízo que elas podem trazer à natureza e por não conhecer as plantas nativas. Para divulgar a iniciativa, será realizado um evento em Curitiba (PR), entre o final de março e começo de abril, com associações de paisagismo e produtores. A proposta é convidar outras associações de paisagismo e produtores de todo o país.
Um dos principais objetivos dos Códigos de Conduta Voluntários é barrar a introdução e distribuição de plantas reconhecidamente ou potencialmente invasoras por meio da realização de análises de risco que, baseadas nas características biológicas e ecológicas das espécies, pode prever quais espécies têm tendência a se tornar problemas ambientais ou configurar riscos à saúde humana.
Quem adere aos Códigos de Conduta Voluntários deve desenvolver um plano de trabalho onde estarão listados os compromissos e as metas assumidas.
Para se ter um controle das ações e cumprimentos de metas, a TNC pretende realizar reuniões semestrais ou anuais para a apresentação de resultados, discussão sobre as dificuldades encontradas e as vantagens percebidas em seguir os Códigos de Conduta. “A intenção também é criar elos entre os profissionais e sanar lacunas”, explica Rafael Zenni, engenheiro florestal.
Espécies Exóticas invasoras – Atualmente existem 350 espécies exóticas invasoras da flora e da fauna que afetam ambientes naturais. A maioria não tem predadores ou competidores naturais, que possam manter a população dessas espécies sob controle, permitindo assim, que estas ameacem as espécies nativas – originárias da região -, gerando sérios problemas econômicos e até de saúde pública.
Alguns exemplos: Na saúde, os mosquitos o Aedes aegypti, transmissor da dengue, e o do barbeiro (Triatoma infestans), transmissor do mal de Chagas, chegaram ao país acidentalmente. Na área alimentar, o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica), a abelha-africana (Appis mellifera scutellata) e a rã-touro (Rana catesbeiana), foram algumas das tentativas fracassadas de comércio gastronômico. No mar, o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), trazido pela água de lastro dos navios. Para domesticação, o mico-comum (Callithrix jaccus) e o mico-estrela (Callithrix penicilita).