EXCLUSIVO: Terceiro setor continua na luta contra a usina Angra 3

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

Ontem, AmbienteBrasil publicou notícia da Folha Online, registrando que Portugal inaugura maior planta de energia solar do mundo. “Os painéis para captar a energia solar espalham-se por uma área de 60 hectares em Serpa, 200 km a sudeste de Lisboa, em uma das regiões mais ensolaradas da Europa, com 3.300 horas de luz solar por ano”, informou a publicação. “A nova planta deve produzir energia suficiente para 8.000 casas e também deve prevenir a emissão de 30 mil toneladas de gases de efeito estufa por ano, quando comparada a combustíveis fósseis”.

O bom exemplo português foi exaltado pelo leitor Paulo Floriani, no espaço para os comentários sobre a reportagem. Ele opinou que “esta é uma das opções inteligentes”. E avaliou: “Por que no Brasil não se faz nada a respeito? Porque o governo está mancomunado com empreiteiras que só querem construir represas, a um custo desastroso para o meio ambiente e para os cofres públicos”.

Partindo da crítica às represas para a energia nuclear, o apoio a fontes menos polêmicas é também um dos cernes da carta assinada por mais de 20 entidades do terceiro setor, dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com cópia aos membros do Conselho Nacional de Política Energética – CNPE. O manifesto é liderado pelo Grupo de Trabalho de Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

Os signatários repudiam a construção da Usina Nuclear de Angra 3, considerando-a “desnecessária para o Brasil, uma vez que nosso país tem todas as condições de estar na vanguarda do desenvolvimento limpo ao investir em energias renováveis como solar, biomassa e eólica, além do uso racional da energia”.

“O próprio Governo Federal admite que Angra 3 custaria aos cofres públicos mais de R$ 7 bilhões para gerar apenas 1350 MW. Com este volume de recursos, poderia ser criado, por exemplo, um parque eólico com o dobro da potência, gerando 32 vezes mais empregos e sem produzir lixo radioativo ou o risco de acidentes nucleares”, prosseguem as ONGs, lembrando que a ampla maioria da população brasileira e da sociedade civil organizada é contrária à expansão do Programa Nuclear Brasileiro.

Conforme AmbienteBrasil mostrou na reportagem Energia Nuclear: sim ou não?, o portal do Ministério da Ciência e Tecnologia elenca vantagens e contribuições apresentadas pelo uso desta opção energética em lugar de centrais térmicas convencionais. “Quando utilizada para produção de energia elétrica é uma forma de energia que não emite nenhum gás de efeito estufa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros) e nenhum gás causador de chuva ácida (dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio)”, lê-se. “A utilização da energia nuclear também não libera gases ou partículas que causem poluição urbana ou diminuição da camada de ozônio”, prossegue o texto.

A carta das ONGs questiona essa informação. “O argumento utilizado por alguns de nossos tomadores de decisão de que a energia nuclear pode combater o aquecimento global é falso e oportunista. O risco de acidentes nucleares graves cresce à medida que aumenta o número de usinas. O problema ambiental do lixo radioativo continua sem solução. A Eletronuclear é alvo de ação do Ministério Público porque ainda não apresentou um destino definitivo para os rejeitos radioativos das usinas de Angra 1 e 2”.

Cobra ainda “transparência na discussão de um assunto tão grave e de extrema relevância para o futuro do Brasil” e registra que até hoje o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE – não nomeou o representante da sociedade civil para acompanhar as discussões e decisões sobre a matriz energética brasileira, direito previsto em Decreto da Presidência da República.

A versão do Ministério das Minas e Energia

Sobre esse assunto, a assessoria de Comunicação do ministro Silas Rondeau informou a AmbienteBrasil que a escolha do representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética – CNPE – é uma atribuição do próprio ministro. Alguns nomes estão sob sua análise e, tão logo um deles seja definido, o CNPE o irá divulgar.