Fast food (comida rápida) é um estilo de alimentação largamente disseminado no mundo ocidental, que engorda não só seus adeptos mais freqüentes, mas sobretudo as contas bancárias de multinacionais como o McDonald´s. A imagem que o conceito evoca é de uma pessoa comendo às pressas, muitas vezes em pé, sanduíches com alto teor calórico – e, não raro, de gorduras.
Na contramão desta tendência, se fortalece em todo o mundo o slow food – comida lenta -, uma opção que se transformou em associação internacional já em 1989, mas que só recentemente começou a ganhar corpo no Brasil.
Oficialmente, o Slow Food é uma “resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo”.
É aí que entra o conceito da ecogastronomia, um esforço pela conjugação de prazer e alimentação com consciência e responsabilidade, a partir das fortes conexões entre o prato e o planeta. O movimento conta hoje com mais de 80 mil associados e escritórios na Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido, além de apoiadores em 122 países.
Comida e meio ambiente têm mesmo uma relação forte, inegável – que o testemunhem as indústrias de agrotóxicos e transgênicos de um lado; os produtores de orgânicos, de outro.
“O Slow Food está comprometido a salvaguardar alimentos, matéria-prima e métodos tradicionais de cultivo e transformação dos alimentos. Luta para defender a biodiversidade de variedades sejam elas cultivadas ou selvagens, e proteger os locais de convívio que formam a herança cultural devido ao seu valor histórico, artístico e social”, informa o site do movimento no Brasil.
Defende um modelo de agricultura “menos intensivo, mais saudável e sustentável”, com base no conhecimento das comunidades locais. “Este é o único tipo de agricultura capaz de oferecer formas de desenvolvimento para as regiões mais pobres do nosso planeta”, diz.
As ações do movimento têm lugar em grupos locais – os convivia -, expressão da filosofia slow food a partir de convivium, palavra latina que significa ‘festim, entretenimento, banquete’.
Nestes espaços, os membros do grupo articulam relações com os produtores, fazem campanhas para proteger alimentos tradicionais, organizam degustações e palestras, encorajam os chefs a usar alimentos regionais, indicam produtores para participar de eventos internacionais e trabalham para levar a “educação do gosto” às escolas.
O projeto “Educação do gosto” transcende o informar qualidades nutricionais dos alimentos: enfatiza que a refeição também significa prazer, cultura e convívio.
Para o Slow Food, esse aprendizado proporciona a melhor defesa contra “a invasão do fast food”, ao mesmo tempo em que, na visão do movimento, ajuda a preservar a cozinha regional, produtos tradicionais, espécies vegetais e animais em risco de extinção.
No Brasil, existem hoje onze convivias, distribuídos por dez estados. No mundo, são mais de 850. “Esse é o caminho; a produção em alta escala está acabando com o planeta”, disse a AmbienteBrasil Cláudio Andrade, líder do convivia Engenho de Farinha, em Florianópolis (SC). Lá, é fabricada farinha de mandioca de forma artesanal, num engenho de 1860, até hoje movido por tração animal. O produto tem compradores certos e, também, fornecedores habituais de mandioca.
O engenho pertence à família de Cláudio Andrade há mais de cem anos e ele luta para manter a tradição, com todo o processo “dentro de uma proposta orgânica”. “Em Santa Catarina, o uso de agrotóxicos no plantio de maçãs é terrível; com 50 anos, o produtor já está como morto”, ilustra.
Incentivo público
Desde agosto de 2004 que a Fundação Slow Food para Biodiversidade – braço do movimento – tem um acordo de cooperação internacional com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Os projetos estão sendo desenvolvidos no país com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do MDA.
Um deles é a Arca do Gosto, um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais. Desde o início da iniciativa, em 1996, mais de 750 produtos de dezenas de países foram integrados à Arca (clique aqui para conhecer os brasileiros).