Mônica Pinto / AmbienteBrasil
O aquecimento global chega novamente às telas do cinema, desta vez num filme produzido e narrado pelo ator Leonardo Di Caprio (o astro de Titanic) – “A Décima-Primeira Hora”, que, na tradução, transformou-se em “A Última Hora”.
Isso talvez tenha acontecido porque, no ano passado, uma produção britânica já batizara de Eleventh Hour uma série hoje exibida no Brasil pelo canal Maxprime, da TV por assinatura. Curiosamente, as mudanças climáticas são também o foco. Diz a sinopse: “a vida de um cientista que está á frente de uma investigação sobre o aquecimento global está em perigo. Suas pesquisas que comprometem grande empresas são interrompidas e o professor Ian Hood terá de ajudá-lo”.
Voltando ao filme do ator hollywoodiano, que agora ataca também de produtor e roteirista, a previsão é que o trabalho chegue ao circuito brasileiro no final do mês, inicialmente apenas nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tende a ser mais um daqueles filmes classificados como “cult”, exibidos em espaços “alternativos”, para crítica de poucos interessados.
Na segunda-feira passada, a Fundação O Boticário, em parceria com o Cinemark, promoveu uma pré-estréia do filme no Parkshopping Barigui, em Curitiba (PR). AmbienteBrasil, convidado, foi conferir.
A comparação com o documentário de mister Al Gore – Uma Verdade Inconveniente – é inevitável e, nela, os louvores vão para o ex-presidente dos EUA, que perdeu a corrida para tornar-se titular do cargo, vencida por George W. Bush na campanha de 2000. Mas por conta dessa sua incursão na indústria cinematográfica, embolsou um Oscar e, melhor que isso, o Prêmio Nobel da Paz 2007.
Com 100 minutos, o documentário de Gore explica o que é o aquecimento global e suas origens na ganância humana com muito mais substância científica do que o filme inteiro de Leonardo Di Caprio, ao longo de suas duas horas de duração.
O ator reuniu uma série de depoimentos, muitos dos quais de ambientalistas ligados a entidades, elencando as catástrofes provocadas pelos meios de produção estabelecidos desde a Revolução Industrial. Quem assistiu ao documentário O Segredo – neste, o foco é a chamada Lei da Atração, uma baboseira na visão dos descrentes – certamente verá alguma semelhança na sucessão de pessoas simplesmente discursando para a câmera.
Os depoimentos de A Última Hora são entremeados por imagens como as da devastação promovida pelo Katrina, furacão que destruiu Nova Orleans em agosto de 2005, e outras cuja intenção óbvia é dar ao menos um pouco de alívio à chatice de ouvir tanta gente falando – ainda que as falas sejam corretas em seu teor.
Num desses depoimentos, registra-se que as pessoas, em todas as partes do mundo – e os Estados Unidos não fogem à regra – se mostrariam dispostas a abraçar a luta contra o aquecimento global se fossem consultadas nesse sentido. Mas esse bom combate não vai adiante, ao menos não na velocidade necessária, por culpa do desinteresse de alguns Governos – e aí novamente os EUA figuram no topo da lista – e, sobretudo, pela total falta de consciência das grandes corporações – ou, em outras palavras, sua sanha por lucros a qualquer preço.
Assim, o filme estimula que os cidadãos passem a cobrar de seus dirigentes, com mais afinco, esse tipo de postura, bem como deixem claro às empresas que só vão comprar os produtos e/ou serviços delas se houver algum comprometimento sério com a causa das mudanças climáticas.
Outra posição deixada clara é que o aquecimento global não ameaça a Terra em si, mas sim a sobrevivência da raça humana. O planeta, aliás, ficaria muito bem, obrigado, sem tanta gente o aviltando todos os dias, de todas as formas possíveis.
O maior problema do documentário de Leonardo Di Caprio é que, muito provavelmente, ele só será visto por pessoas que já militam nessa área – formal ou informalmente. E, para elas, o filme não traz absolutamente nenhuma novidade.
Muito mais valioso seria que ele fosse exibido em todas as escolas do mundo, em todos os gabinetes palacianos, em todas as indústrias. Mas, como já se viu acima, ao menos no Brasil a obra já chega restrita a escassas salas.
Há também quem sinta falta do contraponto gerado pelas opiniões dos chamados cientistas céticos, aqueles para quem o aquecimento global nem é tão grave, nem tão ocasionado pelas ações humanas no planeta. A eles, fica o comentário do leitor/crítico Érico Borbo, no site Omelete, especializado em entretenimento:
“Como cinema, o filme é manco. Não oferece pontos-de-vista contrários e todos os que acreditam que o aquecimento global é um exagero (ou mesmo uma farsa) não ganham espaço a não ser como vilões. Mas, sinceramente, pro inferno com isso. Quem vai fazer filmes depois que estivermos extintos? As baratas? O tom tem que ser esse mesmo”.