Neide Campos / AmbienteBrasil
Os quelônios (tartarugas, tracajás e iaçás) são animais historicamente em perigo pelo consumo predatório praticado por comunidades ribeirinhas, que os consideram iguarias. Além dos animais, seus ovos também são foco desse interesse, fato que compromete a reprodução das espécies, algumas delas já praticamente extintas.
Para os especialistas, a melhor maneira de evitar a extinção dos quelônios é a educação ambiental e a integração das comunidades em sua proteção. Um desses projetos é realizado pelo Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), mantido pela Manaus Energia S/A, e executado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, a 270 km de Manaus (AM).
O projeto conta com a parceria de comunidades ribeirinhas do Rio Uatumã, comunidade Nossa senhora do Livramento e Maracarana, as prefeituras municipais de São Sebastião do Uatumã e Presidente Figueiredo, IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas), Corredores Ecológicos e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
O CPPQA mantém um criatório de tartarugas da Amazônia (Podocnemis expansa) e tracajás (Podocnemis unifilis). São quase 400 tartarugas adultas, matrizes e reprodutores, que procriam nos tanques do criatório. Os filhotes são soltos no Rio Uatumã. Em sete anos de existência, o programa produziu e soltou em ambiente natural cerca de 70.000 filhotes de quelônios.
Também foram construídas duas praias artificiais próximas à hidrelétrica de Balbina pela Manaus Energia. Na estação reprodutiva, que começa em julho, as tartarugas fazem seus ninhos, monitorados por técnicos e tratadores. “Quando os filhotes nascem, são mantidos em berçários de duas semanas a um mês, depois são devolvidos ao rio Uatumá”, explicou a AmbienteBrasil Paulo Henrique Guimarães de Oliveira, coordenador do projeto.
Diretamente 300 pessoas de duas comunidades – Nossa Senhora do Livramento e Maracaranã – executam o trabalho junto ao CPPQA. Outras dez comunidades (Caiué Grande, Boto, Amanaí, Abacate, Bela Vista, São Francisco do Caribi, Jacaréguara, Flexal, Pedras e Jeruzalém do Amaro) participam indiretamente.
Os participantes das comunidades Nossa Senhora do Livramento e Maracaranã, que são chamados de agentes de praia, recebem um treinamento antes da estação reprodutiva. Entre as atividades realizadas por eles, estão o monitoramento das áreas de coleta junto com técnicos do CPPQA, marcação diária de ninhos, coleta de dados reprodutivos e proteção das áreas contra eventuais invasores.
Após a permanência dos filhotes em berçários, a soltura desses animais é um grande evento para as comunidades. Há um culto religioso, torneio de futebol, café da manhã regional para os convidados, dança regional, encenação de peça teatral pela escola comunitária e bingo, entre outras atividades. A última soltura de quelônios aconteceu em fevereiro.
José Henrique conta que as comunidades que participam diretamente do projeto já possuem um grau de conscientização maior e inclusive passam a orientar outras.
“As comunidades que ainda não se envolveram diretamente precisam ser trabalhadas, pois continuam praticando algumas infrações ambientais”, diz ele, apontando o consumo das tartarugas e seus ovos e a venda clandestina para as cidades próximas como as infrações mais freqüentes.
A meta agora é replicar o projeto nas outras comunidades do rio Uatumã. “Hoje trabalhamos com duas e já envolvendo indiretamente mais 10, mas pretendemos alcançar as 20 comunidades”, antecipa José Henrique.