Há quatro anos, carros 4×4 com pesquisadores e turistas engajados percorrem, por duas semanas, uma área de 60 mil hectares de Mata Atlântica do litoral do Paraná. Não se trata de uma corrida, muito menos de uma caçada. As expedições buscam vestígios de onças pintadas, como pegadas, restos e fotografias. O grande felino brasileiro que está em vias de extinção – desde 2008, não há indícios da espécie na área. Os dados coletados no estudo serão usados pelos órgãos ambientais em planos de manejo.
“A integridade de uma floresta não se dá apenas pelas plantas, mas pela integração entre as espécies. Se uma espécie-chave da floresta desaparece, vai junto como uma reação em cadeia outras espécies também, inclusive plantas”, disse o biólogo Marcelo Mazzolli que participa da expedição.
Acredita-se que existam apenas 240 onças-pintadas na região da Mata Atlântica costeira, que vai do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. Mazzolli afirma que como se trata de um predador do topo da cadeia alimentar, as principais consequências para a diminuição da população seria o aumento de espécies herbívoras, que tem grande participação ambiental, inclusive a de reduzir o número de plantas.
O biólogo explica que o habitat destes animais além de encolher ao longo dos anos, se transformou em pequenas áreas isoladas, sem conexões com outras localidades. “Os animais estão em áreas isoladas, sem a possibilidade de fazer migrações”, disse. Nos últimos 10 anos, ocorreu o desaparecimento da espécie na Mata Atlântica costeira do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Entre as causas está a caça tanto do felino quanto dos animais dos quais ele se alimenta.
“O meu sonho é que este bicho chegue de novo à Santa Catarina pela Serra do Mar”, disse o biólogo. O sonho em questão é que o chamado “corredor do tigre” – que liga áreas preservadas nos três estados do Sul – volte a existir e as áreas possam ser conectadas para que as onças não fiquem isoladas. Um dos resultados do isolamento é o endo-cruzamento, ou cruzamento entre indivíduos geneticamente muito próximos, com grau de parentesco, o que pode ocasionar a inviabilidade dos descendentes.
A expectativa é que existam apenas quatro animais na região paranaense estudada, que cobre o Parque Nacional de Saint-Hilaire Lange e a área de preservação ambiental de Guaratuba. Isto porque de acordo com dados do animal no Pantanal, calcula-se que cada onça-pintada necessite de cerca de 17 mil hectares. O animal de grande porte precisa de grandes distâncias para se locomover e animais de grande porte, como queixadas, para se alimentar.
Ainda assim, comparada com outras áreas do sul do país, a região paranaense é ocupada por diversas espécies raras que atestam tratar-se de um dos melhores remanescentes da Serra do Mar. De acordo com os cientistas esse é um dos poucos locais onde as antas são registradas facilmente, além de grupos de porcos-do-mato e da jacutinga, ave endêmica da Mata Atlântica que, desapareceram de grandes extensões de sua distribuição original e encontra-se atualmente isolada em poucas áreas da floresta. (Fonte: Maria Fernanda Ziegler/ Portal iG)