Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Em novembro de 2007, a Confederação das Indústrias Britânicas (CBI, sigla em inglês) lançou um trabalho para impulsionar o setor privado a se tornar um catalisador da construção de uma economia de baixo carbono. Intitulado “Mudanças Climáticas: Um Assunto de Todos”, o relatório avaliou os benefícios econômicos e os custos de diferentes opções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030, para que o Reino Unido avance no caminho certo visando atingir a meta do governo, de redução de 60% das emissões em 2050 em relação aos níveis de 1990.
Ontem, esse estudo chegou ao Brasil, num lançamento via internet realizado pela Embaixada do Reino Unido, com apoio do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV), do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Ethos.
Se as realidades dos setores produtivos dos dois países são bem diferentes, já no início fica patente que o trabalho pode contribuir para uma tomada de consciência fundamental e urgente em relação ao fenômeno das mudanças climáticas.
“O presente relatório não foi escrito por ativistas; foi escrito pela comunidade empresarial. Por esse motivo, se nos perguntarem se temos certeza de que o clima está mudando, teremos que pedir desculpa, pois não cabe a nós da comunidade empresarial responder a essa pergunta”, diz no prefácio Ben Verwaayen, presidente do Grupo de Trabalho de Mudanças Climáticas e diretor-executivo da BT (British Telecom).
E completa, numa lógica irrefutável: “Se a pergunta for se temos certeza de que as mudanças climáticas de fato representam um risco capaz de afetar profundamente a sociedade e a economia em que vivemos, a essa pergunta, a resposta mais apropriada para nós é, sem dúvida, ‘sim’. E uma vez que passamos a reconhecer a iminência do risco, torna-se fundamental afastá-lo”.
O relatório coloca que as políticas voltadas às mudanças climáticas devem se alicerçar na competitividade econômica. “Isso significa dar prioridade às medidas que visam aumentar a eficiência do consumo de energia, que corresponde a uma parcela significativa das reduções necessárias nas emissões de carbono. Setores como o siderúrgico ou o químico, que enfrentam uma intensa competição com países que ainda não buscam cortar suas emissões, também demandarão atenção especial”.
O estudo defende que os consumidores são a mola propulsora da mudança. “Seu impacto, somadas às emissões pelas quais são diretamente responsáveis com aquelas influenciadas por suas decisões de compra, representa cerca de 60 por cento das emissões do Reino Unido”, diz. “Ao mesmo tempo, como eleitores, exercem grande influência na política pública. Precisam, pois, de informação, incentivos e oportunidades para fazer escolhas de baixo impacto”.
Cor local
AmbienteBrasil solicitou uma breve análise do relatório à Manyu Chang, secretária Executiva do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais. De princípio, ela achou interessante que o chamamento esteja partindo dos setores empresariais. “Quiçá estes tenham consciência de que são os principais responsáveis, uma vez que a emissão (de gases causadores de efeito estufa) coloca em xeque o modelo de produção. Não que o consumo não seja responsável, mas ele não é determinante”.
Manyu diz que sem dúvida o material é útil para o Brasil, embora suas análises sejam centradas na situação do Reino Unido, cuja matriz energética é diferente da nossa, assim como os padrões de consumo e condições climáticas.
Mas, ressalta ela, o Brasil é um país que está crescendo muito e tem uma classe média significativa, com padrão de vida muito semelhante à de um país desenvolvido. “Nesse sentido, conhecer a situação na Inglaterra é sempre uma informação útil para uma análise global. É claro que seria muito bom termos um relatório sobre a nossa emissão e prever o que devemos fazer”, diz Manyu, lembrando que, nesse momento, o Brasil elabora sua Política e o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.
Outro aspecto positivo do relatório destacado por ela é que os empresários brasileiros podem sentir-se identificados ao chamamento para iniciativas na mesma linha, ou no mínimo não oferecer resistências para reduzir as emissões de gases de efeito estufa oriundas de seus negócios.