A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama lançou nesta terça-feira, em todo o país, a campanha Não Aceite a Informação pela Metade. A movimentação, que incluiu iluminar de rosa o Cristo Redentor, objetiva prestar esclarecimentos sobre o câncer de mama, que atinge mais de 49 mil mulheres anualmente no país.
Informações pela metade ou simplesmente equivocadas são, de fato, um impeditivo para o combate sério e articulado à doença. Um exemplo concreto está na advertência que circula sistematicamente pela internet, segundo a qual o uso de desodorantes antitranspirantes seria um dos fatores a desencadeá-la. O alerta, atribuído a uma bióloga uruguaia, “explica” que tais produtos, ao evitarem a transpiração, inibem o corpo de eliminar toxinas através das axilas.
“Como não saem pelo suor, o organismo deposita-as nas glândulas linfáticas que se encontram debaixo dos braços. A maioria dos tumores cancerígenos do seio ocorrem no quadrante superior da área da mama, precisamente onde se encontram as glândulas linfáticas”, diz a mensagem, advertindo ainda: “as mulheres que aplicam antitranspirantes logo após rasparem ou depilarem as axilas aumentam o risco devido a minúsculas feridas e irritações da pele, que fazem com que os componentes químicos nocivos penetrem mais rapidamente no organismo”.
Mais uma vez, porém, as boas intenções esbarram na mais pura desinformação. “Não há evidências relevantes sobre a relação entre o uso de antitranspirantes e o câncer de mama”, disse a AmbienteBrasil Rodrigo Feijó, jornalista da Divisão de Comunicação Social do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Ele enviou ao portal um parecer técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que investigou o assunto justamente sob motivação de tais mensagens que, já há tempos, são disseminadas pela internet.
O estudo cita o médico Henrique Alberto Pasqualette, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas da Mulher (Cepem), que anteriormente se debruçou sobre a suspeita, junto com o Instituto Nacional de Câncer dos EUA e a Biblioteca Nacional de Medicina americana.
“De fato, a incidência de câncer observada neste quadrante (o superior) é um pouco maior, mas a explicação é simples: é justamente ali que encontramos a maior quantidade de tecido mamário e, portanto, é uma área com maior possibilidade para desenvolvimento da doença. É importante lembrar que, a drenagem linfática da mama não ocorre apenas na axila, mas em outros locais, como mediastino e peritônio (áreas no tórax)”, colocou Pasqualette.
A Anvisa informa ainda que, em dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, também não foram mencionadas pesquisas que pudessem evidenciar, até a presente data, tal correlação. E registra que, segundo o Food and Drug Administration (FDA), orgão que regulamenta, entre outros, o setor de produtos cosméticos naquele país, “também não foram relatados, até o momento, dados que pudessem evidenciar qualquer suporte à teoria de que os ativos presentes em formulações de antitranspirantes ou desodorantes pudessem causar câncer; conseqüentemente, segundo o FDA, parece não haver embasamento científico para esta preocupação”.
Esses esclarecimentos não têm sido capazes de frear o alarmismo gerado pelo tema, que sobrevive há quase uma década. Em janeiro de 2000, em entrevista ao jornal O Globo, já sobre a suposta correlação entre a doença e os antitranspirantes, o médico Henrique Alberto Pasqualette esclarecia: o câncer de mama é uma doença associada a fatores ambientais (poluição), genéticos e comportamentais (tipo de dieta e hábito de fumar, por exemplo).
No Brasil, o de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina, principalmente na faixa etária entre 40 e 69 anos.
“Um dos fatores que dificultam o tratamento é o estágio avançado em que a doença é descoberta. A maioria dos casos de câncer de mama, no Brasil, é diagnosticada em estágios avançados (III e IV), diminuindo as chances de sobrevida das pacientes e comprometendo os resultados do tratamento”, diz o Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama do Ministério da Saúde (clique aqui para conhecê-lo).
O Programa recomenda as seguintes ações para o rastreamento do câncer de mama em mulheres assintomáticas:
• Exame Clínico das Mamas realizado anualmente, para as todas as mulheres com 40 anos ou mais. O Exame Clínico das Mamas deve fazer parte, também, do atendimento integral à mulher em todas as faixas etárias;
• Mamografia, para as mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com o intervalo máximo de dois anos entre os exames;
• Exame Clínico das Mamas e Mamografia anual, a partir dos 35 anos, para as mulheres pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver câncer de mama. São consideradas mulheres de risco elevado aquelas com: um ou mais parentes de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com câncer de mama antes dos 50 anos; um ou mais parentes de primeiro grau com câncer de mama bilateral ou câncer de ovário; história familiar de câncer de mama masculina; lesão mamária proliferativa com atipia comprovada em biópsia;
• As mulheres submetidas ao rastreamento devem ter garantido o acesso aos exames de diagnóstico, ao tratamento e ao acompanhamento das alterações encontradas.