A ocorrência de enchentes após chuvas fortes, principalmente nos centros urbanos, vem se tornando cada vez mais recorrente, onde em poucas horas é possível verificar a dificuldade no transporte na cidade, com ruas impossibilitadas de acessar, quedas de luz e estabelecimentos ilhados.
Estes prejuízos vão além dos transtornos gerados no cotidiano da cidade, podendo acarretar também em perdas materiais e possibilidade de maior propagação de doenças. Todo este quadro, gera impactos financeiros significativos, tanto para a regularização imediata da situação, como também de obras preventivas e corretivas.
Segundo um estudo do Instituto Mundial de Recursos, foi levantado que o Brasil gasta anualmente cerca de R$ 9 bilhões em decorrência de enchentes, sendo este valor atrelado majoritariamente ao planejamento urbano inadequado.
Apesar de que as enchentes podem ocorrer na natureza, em virtude do comportamento dos rios nos períodos de seca e de chuva, nos centros urbanos observa-se que, muitas vezes, ocorrem por falhas humanas, isto é, decorrentes principalmente da gestão inadequada dos resíduos nas cidades, do escasso sistema de drenagem urbana e da impermeabilização do solo.
Buscando formas de reduzir o impacto da impermeabilização e drenagem nas cidades, seja por diminuir o tempo que a água fica retida nas ruas ou a rapidez com que a enchente ocorre, surgiram iniciativas pensando em como tornar o asfalto um aliado a esta solução.
Foi assim que surgiram os asfaltos porosos, os pavimentos permeáveis e os ecopavimentos. Eles possuem, em sua essência, características muito similares aos asfaltos já utilizados, constituindo-se basicamente de brita e derivado de petróleo. A grande diferença é que os asfaltos porosos possuem tamanhos e distâncias de britas diferentes aos usuais, o que permite que nas diversas camadas do asfalto tenham espaços vazios, onde a água consegue passar e ser absorvida, aumentando a permeabilidade e capacidade de retenção do solo.
Esta característica, de maior permeabilidade, permite a redução da rapidez com que as enchentes ocorrem, por aumentar a capacidade do solo de armazenar água, assim como auxilia na redução das ilhas de calor, devido a evaporação da água armazenada, criando um efeito de resfriamento da superfície.
Uma das iniciativas de criação de asfalto poroso no Brasil, foi desenvolvida pela Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), que em teste em um estacionamento local conseguiu absorver 100% das águas das chuvas dos meses de janeiro e fevereiro.
Neste experimento, o professor coordenador da pesquisa, José Rodolfo Scarati Martins, reforça a importância de buscarmos soluções que tragam a característica permeável para o asfalto:
“A impermeabilidade do asfalto comum é uma das grandes vilãs do meio ambiente urbano, pois não permite que a água seja absorvida pela terra e ajuda a causar as enchentes. Os pavimentos que desenvolvemos são diferentes, pois são capazes de devolver parte da permeabilidade ao solo e consegue absorver a água com muita rapidez”, explicou o professor.
Outro exemplo de iniciativa, já visando a comercialização, é da empresa britânica Tarmac, que desenvolveu o produto “Topmix Permeable”, que absorve até 600 litros de água por minuto a cada metro quadrado (m²). Dentre as soluções criadas pela empresa, existe a absorção direta pelo solo, se a quantidade de água for pequena; e a absorção pelo solo interligado ao sistema de drenagem e de saneamento da cidade, para reutilização ou reaproveitamento da água captada para outros fins.
Das iniciativas em curso, tem se estudado também sobre como tornar o valor do asfalto poroso atrativo para comercialização, onde os resultados mostram que apesar da aquisição em pequena escala ser mais elevada, quando se inclui a redução da necessidade de canalização de águas pluviais, redução das manutenções corretivas nas áreas com ocorrência de enchentes e aquisição em maior escala, a viabilidade financeira pode se tornar promissora e sustentável.
Maria Beatriz Ayello
Redação Ambientebrasil