Com sua vibrante cor laranja e listras brancas, também conhecidas como barras, o peixe-palhaço está entre as criaturas marinhas mais icônicas. Mas como o Nemo desenvolve sua aparência distinta? Os cientistas estão aprendendo mais sobre esse processo.
A velocidade com que um peixe-palhaço desenvolve suas listras brancas está ligada à espécie de anêmona-do-mar em que ele decide viver, descobriu um novo estudo publicado na segunda-feira no PNAS.
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O peixe-palhaço vive simbioticamente com uma das duas espécies de anêmona do mar: Heteractis magnifica – também conhecida como anêmona magnífica, caracterizada por tentáculos mais longos e fluidos – e a Stichodactyla gigantea, ou anêmona-gigante, uma variedade mais tóxica com tentáculos mais curtos.
Observando o peixe-palhaço da espécie Amphiprion percula em Kimbe Bay, Papua-Nova Guiné, os cientistas notaram que o peixe-palhaço que vive em anêmonas-gigantes desenvolveria suas listras brancas mais rapidamente do que o peixe-palhaço que vive nas anêmonas magníficas.
Análises de laboratório com o peixe-palhaço selvagem descobriram que os que viviam nas anêmonas-gigantes exibiam um nível mais alto de hormônios tireoidianos e de um gene chamado duox, que tem um papel importante na formação dos hormônios tireoidianos.
Já se sabia que uma espécie de peixe-palhaço intimamente relacionada, Amphiprion ocellaris, desenvolve suas listras brancas durante o processo de metamorfose, quando os hormônios tireoidianos são responsáveis por uma variedade de alterações morfológicas à medida que as larvas se transformam em peixes juvenis. Com isso em mente, os pesquisadores deste último estudo analisaram se a velocidade com que as listras se desenvolveram estava ligada ao nível dos hormônios tireoidianos.
Ao expor o peixe-palhaço A. ocellaris a diferentes dosagens de hormônios da tireoide e a produtos químicos bloqueadores do hormônio da tireoide, os cientistas descobriram uma conexão entre os níveis mais elevados de hormônio e a formação mais rápida das listras brancas. A equipe de pesquisa também demonstrou que o peixe-palhaço exposto a substâncias químicas bloqueadoras do hormônio da tireoide desenvolveu barras mais translúcidas e diminuiu a coloração laranja, disse o estudo.
Encontrar provas de que os níveis de hormônio tireoidiano controlam a taxa de formação da listra branca, tanto no laboratório quanto na natureza, foi “um grande momento”, disse o co-autor do estudo, Vincent Laudet, professor que lidera a unidade Marinha Eco-Evo-Devo no Instituto Okinawa da Universidade de Graduação em Ciência e Tecnologia no Japão e na Academia Sinica em Taiwan.
“O objetivo do resultado é mostrar como os hormônios podem alterar o desenvolvimento de um organismo de acordo com as mudanças ambientais”, explicou Laudet.
“Isso se chama plasticidade fenotípica e não são muitos os casos em que sabemos como funciona”, acrescentou.
Nemo, a anêmona e muitas questões em aberto
O peixe-palhaço vive nas anêmonas-do-mar para proteção, de acordo com Laudet. As anêmonas “têm tentáculos venenosos que podem matar outros peixes, mas não o peixe-palhaço”, explicou ele.
Ainda não está claro como o peixe-palhaço evita acionar os tentáculos da anêmona-do-mar ou como eles escolhem entre as espécies de anêmona-do-mar.
Também não sabemos por que os peixes-palhaço que vivem em anêmonas-gigantes apresentam níveis mais elevados de hormônios da tireoide do que aqueles que não vivem. Isso, segundo Laudet, pode ter algo a ver com a adaptação ao ambiente mais hostil apresentado por aquela espécie de anêmona, que é mais tóxica que a anêmona magnífica e com tentáculos mais curtos, proporcionando menos abrigo.
Laudet acredita que é possível que diferentes níveis de hormônio da tireoide também possam afetar outros fatores na vida do peixe-palhaço, como imunidade, metabolismo e apetite.
“O problema é que temos uma compreensão muito pobre do ambiente do peixe-palhaço dentro de sua anêmona-do-mar. Eles provavelmente são sensíveis a coisas que para nós são invisíveis”, disse Laudet.
“O meu sonho seria poder sentir como um peixe-palhaço para melhor apreciar a diferença entre as duas espécies de anêmonas marinhas. Estou convencido de que para eles é enorme!” acrescenta Laudet.
Pauline Salis, a primeira autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado no Observatório Oceanológico Banyuls-sur-Mer, na Universidade Sorbonne Paris e no Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, falou à CNN sobre como abordagens complementares entre os pesquisadores beneficiaram o estudo, que levou quatro anos para ser concluído.
Enquanto Laudet está interessado no papel dos hormônios da tireoide na ecologia e evolução, Salis estudou como as células interagem durante o desenvolvimento para dar forma ao tecido. “Estou mais interessada em entender como os padrões de cores são formados”, explicou Salis por e-mail.
Salis disse à CNN que observar peixes-palhaço em aquários é fascinante.
“É uma loucura ver como cada indivíduo do peixe-palhaço tem o seu comportamento. Enquanto alguns são muito curiosos, outros são muito agressivos”, explicou.
Enquanto os cientistas continuam pesquisando questões em aberto sobre o peixe-palhaço e seu ambiente, Salis está ansiosa para as observações em campo, para entender melhor esta carismática criatura marinha.
Fonte: CNN / Francesca Giuliani-Hoffman
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://edition.cnn.com/2021/05/26/world/clownfish-white-stripes-trnd-scn/index.html