Quando comecei meu trabalho como biólogo na Universidade do Sul da Flórida, dirigi meu jipe para um campo gramado, desenterrei um monte de formigas-de-fogo e coloquei em um balde. Imediatamente, milhares de formigas saíram do solo e subiram pelas paredes do balde em direção à liberdade. Felizmente eu tinha uma tampa.
Como as formigas fazem parecer tão fácil escalar paredes, tetos e outras superfícies? Eu estudo formigas há 30 anos, e suas habilidades de escalada nunca deixam de me surpreender.
As formigas operárias – todas do sexo feminino – têm uma impressionante caixa de ferramentas de garras, espinhos, pelos e almofadas pegajosas nos pés que lhes permitem escalar praticamente qualquer superfície.
Mãos humanas contra pés de formiga
Para entender os pés das formigas, é útil compará-los com as mãos humanas. Sua mão tem um segmento amplo, a palma. Brotando de sua palma estão quatro dedos e um polegar opositor. Cada dedo tem três segmentos, enquanto o polegar tem apenas dois segmentos. Uma unha dura cresce das pontas dos dedos e do polegar.
Os humanos têm duas mãos – as formigas têm seis pés. Os pés das formigas são semelhantes às suas mãos, mas são mais complexos, com um conjunto adicional de partes estranhas que os aprimoram.
Os pés das formigas têm cinco segmentos articulados, com o segmento final ostentando um par de garras. As garras têm a forma de um gato e podem agarrar irregularidades nas paredes. Cada segmento do pé também tem espinhos e pelos grossos e finos que fornecem tração adicional, grudando em buracos microscópicos em superfícies texturizadas como casca. Garras e espinhos têm o benefício adicional de proteger os pés das formigas do pavimento quente e objetos pontiagudos, assim como nossos pés são protegidos por sapatos.
Mas o recurso que realmente separa as mãos humanas dos pés das formigas são as almofadas adesivas infláveis, chamadas arolia.
Pés pegajosos
As arolias estão localizadas entre as garras na ponta de cada pé de formiga. Essas almofadas em forma de balão permitem que as formigas desafiem a gravidade e rastejem em tetos ou superfícies ultraduras como vidro.
Quando uma formiga sobe uma parede ou um teto, a gravidade faz com que suas garras se afastem. Ao mesmo tempo, os músculos das pernas bombeiam fluidos para as almofadas na extremidade dos pés, fazendo com que eles inflem. Esse fluido corporal é chamado de hemolinfa, que é um fluido pegajoso semelhante ao sangue que circula pelo corpo de uma formiga.
Depois que a hemolinfa bombeia a almofada, parte dela vaza para fora da almofada, que é como as formigas podem grudar na parede ou no teto. Mas quando uma formiga pega o pé, os músculos da perna se contraem e sugam a maior parte do fluido de volta para a almofada e depois voltam para a perna. Dessa forma, o sangue de uma formiga é reutilizado repetidamente – bombeado da perna para a almofada e depois sugado de volta pela perna – para que nada seja deixado para trás.
As formigas são leves como uma pena, então seis almofadas adesivas são suficientes para segurá-las contra a força da gravidade em qualquer superfície. De fato, em casa em suas câmaras subterrâneas, as formigas usam suas almofadas adesivas para dormir no teto. Ao dormir no teto, as formigas evitam o tráfego da hora do rush de outras formigas no chão da câmara.
Uma marcha única
Quando você anda, seus pés esquerdo e direito se alternam para que um fique no chão enquanto o outro está no ar, avançando. As formigas também alternam seus pés, com três na superfície e três no ar ao mesmo tempo.
O padrão de caminhada das formigas é único entre os insetos de seis patas. Nas formigas, os pés dianteiros e traseiros esquerdos estão no chão com o pé direito do meio, enquanto os pés direitos dianteiros e traseiros e o pé esquerdo médio estão no ar. Então eles trocam. É divertido tentar copiar esse padrão triangular usando três dedos em cada mão.
Da próxima vez que você vir uma formiga rastejando por uma parede, olhe de perto e poderá testemunhar algumas dessas características fascinantes em ação.
Fonte: The Conversation / Deby Cassill
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://theconversation.com/how-do-ants-crawl-on-walls-a-biologist-explains-their-sticky-spiky-gravity-defying-grip-188559
