Soja é a planta que mais causa emissão de carbono na agricultura

A principal fonte de poluição da atmosfera é a queima de combustíveis fósseis, responsável por mais de 60% da emissões de dióxico de carbono (CO²), substância responsável por danos ambientais como o aquecimento global e problemas respiratórios. Em segundo lugar na emissão de CO² está a agricultura, tanto pelo uso de combustíveis na mecanização quanto pelas técnicas de manejo do solo.

Neste contexto, a soja é uma das culturas que mais dependem da concentração de carbono no solo, ao mesmo tempo em que aparece como a maior causa de emissão de CO² na agricultura. A informação foi divulgada pelo pesquisador do Departamento de Agricultura Americano (Usda), Don Reicosky, na VII Conferência Mundial da Soja que termina neste sábado (6), em Foz do Iguaçu (PR).

O carbono (C) é um nutriente natural do solo, cuja função é garantir a ciclagem dos componentes físicos, químicos e biológicos que servem de alimento às plantas durante todo o desenvolvimento vegetativo. A conservação do carbono no solo garante uma menor demanda por insumos, maior retenção da água e menor compactação. “O carbono funciona como uma esponja que minimiza os impactos na compactação. A estrutura do solo sofre a pressão, mas volta ao seu estado normal em pouco tempo”, avalia Don Reicosky.

No processo de fotossíntese das plantas, o oxigênio (O²) chega ao solo, aumentando a atividade microbiana. A união C + O² resulta na produção de CO², substância eliminada gradativamente na decomposição das plantas. Contudo, a sincronia perfeita da natureza na sustentabilidade do sistema é afetada pela intervenção do homem, usando técnicas agrícolas que aceleram a emissão de CO².

“Na revirada do solo para descompactação e plantio, procedimento comum na agricultura convencional, há uma decomposição muito rápida da matéria orgânica (restos culturais que ficaram na última colheita). A emissão de CO² durante o revolvimento do solo é semelhante à queima pelo fogo, com alta poluição atmosférica, só que de maneira não visível. O carbono não é algo palpável como a água, e essa é uma das restrições ao reconhecimento da importância deste problema” , diz Reicosky.

Segundo ele, a soja causa efeitos dramáticos no solo, já que se decompõe mais rapidamente do que qualquer outra cultura. “Na remoção do solo, a soja representa um valor 24 vezes maior de perda de carbono. No solo sem plantio, a perda de carbono e emissão de CO² fica em 100%; no trigo, é de 196%, mas na soja, essa perda representa 264% “, contabiliza Reicosky. Sem carbono no solo, é preciso investir em insumos. Nos cálculos do pesquisador, são necessárias 10 unidades de carbono para produzir uma unidade de nitrogênio (N), e para gerar uma unidade de fósforo (P), são consumidas 60 unidades de carbono. “O carbono é muito importante para manter a biodiversidade e a fertilidade do solo”.

Como se não bastasse, a soja ainda tem menor capacidade de infiltração de água em relação a outras culturas, gerando uma erosão de 778 quilos de solo por hectare ao ano (no milho é de 350 kg/ha). “Estudos mostram que a perda de carbono implica na redução de água no solo, prejudicando o desenvolvimento da soja”, diz Don Reicosky.

Para Don Reicosky, os solos brasileiros são muito deficientes em nutrientes, com os produtores mais preocupados em manter os benefícios do carbono no solo do que com a questão ambiental da emissão de CO². “Os produtores brasileiros não estão mais conscientes da conservação do que os norte-amercianos. O que existe é a necessidade de cuidados especiais, já que nos países tropicais chove mais, resultando na lixiviação dos nutrientes do solo”. (Ascom Embrapa)