Unicamp tem solução para problema ambiental de descarte de pneus

A Resolução federal nº 258/99, do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente, determina que fabricantes e importadores recolham e dêem um fim não poluente aos pneus que comercializam no País, inclusive de bicicletas. Com o objetivo de minimizar os impactos ambientais causados pelos milhares de pneus jogados fora diariamente, a aluna de mestrado Ana Letícia Tarckiani dos Santos, da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, desenvolveu um processo para o aproveitamento desse material poluente.

“O estudo demonstrou que o problema, de difícil solução, passa necessariamente pela criação de parcerias entre prefeituras e fabricantes, para que possam, em conjunto, mapear os pontos onde os pneus são depositados, estimar as quantidades descartadas, organizar a coleta e selecionar formas de reciclagem”, afirma a orientadora do trabalho, Eglé Novaes Teixeira, da FEC – Faculdade de Engenharia Civil. Segundo ela, como a grande dificuldade é recolher os pneus inservíveis, “sem um sistema organizado de coleta não é possível obter matéria-prima em quantidade e com a qualidade exigidas pela indústria de reciclagem”.

Pesquisa de campo – Para realizar seu estudo, Ana Letícia percorreu a cidade de Campinas (SP) a fim de localizar os pontos de despejo. Para isso, visitou fontes geradoras de pneus descartáveis, como revendedores, borracharias e, também, depósitos clandestinos, que queimam esse material provocando a emissão de dióxido de enxofre em larga escala, poluindo o meio ambiente. Além disso, pesquisou programas de coleta e a legislação municipal existente e, no final do processo, investigou técnicas de reciclagem e a produção de empresas dedicadas a essa atividade.

Ao realizar esse trabalho, a pesquisadora constatou, por exemplo, que os pneus de caminhões descartados em grande quantidade, na Estrada dos Amarais, não permanecem ali muito tempo. São recolhidos por grupos de catadores e, em seguida, revendidos para oficinas de recauchutagem.

Recauchutar é uma prática que atinge 70% da frota de transporte de cargas e passageiros no Brasil, pois esse produto reconstituído custa, de modo geral, a metade do preço de um novo. O levantamento feito por Ana Letícia revelou que uma borracharia de bairro chega a juntar dez pneus usados por semana, quantidade que varia entre 50 e 130 em revendedoras. “Numa grande loja, como as que funcionam em shoppings, são acumulados por semana, em média, 375 pneus velhos”, constata.

Fonte de renda alternativa – Há vários obstáculos para que os pneus descartados se tornem importante fonte de renda alternativa como, por exemplo, as latinhas de alumínio. Segundo a orientadora, o próprio processo de trituração para reuso da borracha é complicado e exige equipamentos pesados. “As latinhas têm valor agregado muito maior. Pneu velho é doado. Se as indústrias de reciclados tiverem de pagar pelo material, será o mínimo”, observa.

Ela explica também que, com relação aos pneus usados, campanhas semelhantes às de limpeza de praias e de rios, embora importantes do ponto de vista ambiental, ocorrem esporadicamente, tornando a coleta insuficiente para alimentar uma indústria. Nesse sentido, Ana Letícia acredita que as associações de bairro poderiam receber algum tipo de incentivo do Poder Público para organizar a coleta. Mas lembra que os maiores incentivos devem ser dados aos programas de educação ambiental, que estimulam a coleta voluntária.

Diversas formas de aproveitamento – Os pneus triturados são matéria-prima para a produção de tapetes de automóveis, artefatos de vedação e amortecimento, solados de sapatos, pisos industriais e argamassas para construção. Outros setores aproveitam esse material na contenção de encostas, canalização de córregos, drenagem de gases em aterros sanitários e simulação de recifes em benefício da indústria pesqueira.

Pneus velhos podem gerar energia ao substituir com vantagens o carvão em fornos industriais. Eles são também incluídos na composição do asfalto, tornando-o mais flexível e resistente. Outra boa forma de aproveitamento é a sua utilização como combustível para alimentar os fornos das fábricas de cimento, que já estão equipadas para amenizar a emissão de poluentes na atmosfera. “Na Europa, essas empresas consomem 40% dos pneus inservíveis, o que ainda não é viável no Brasil por não contarmos com fornecimento regular de pneus usados, na quantidade necessária”, explica Ana Letícia.

Em Porto Feliz, a prefeitura utilizou pneus para a canalização de um rio, enquanto em Araras, um trecho da Rodovia Anhanguera recebeu asfalto com um porcentual desses resíduos. No Nordeste, há criações de moluscos em pneus que simulam a estrutura dos corais. Técnicas industriais permitem recuperar, inclusive, o arame utilizado na sua estrutura. (Ascom Unicamp)