Gás já representa 7,5% da matriz energética brasileira

Depois de patinar na casa dos 3% por mais de uma década, a participação do gás na matriz energética brasileira subiu para 7,5% em 2002, e começa a ter comportamento de países como Argentina e Itália, onde o gás tem destaque na geração de energia. O valor reflete uma alteração na metodologia do cálculo do Balanço Energético Nacional (BEN), que modificou o critério que convertia energia hidráulica para tonelada equivalente de Petróleo.

Com a mudança, o governo reduz a distância para o cumprimento de sua meta de 10% para a participação do gás na matriz energética brasileira até 2010.

O engenheiro da ONIP – Organização Nacional da Indústria do Petróleo
, Arlindo Charbel, que fez o levantamento dos dados, destaca que, mesmo com a adoção do antigo critério para este cálculo, o gás teria atualmente uma fatia de 5,7% no BEN.

Segundo ele, o número espelha a entrada do gasoduto Brasil Bolívia em operação, a partir de 1999, e políticas para o incentivo do consumo do gás natural.

Exemplos de medidas recentes para o incentivo ao uso do gás não faltam. Em fevereiro, a Petrobras anunciou uma parceria de US$ 38 milhões com a White Martins para o abastecimento, com gás natural, de regiões ainda não atendidas por gasodutos.

O projeto, inicialmente apelidado de “Gemini”, prevê a construção de uma unidade de Gás Natural Liquefeito (GNL) na cidade paulista de Paulínea. Em janeiro, a estatal já havia proposto que o preço do gás usado para transporte urbano ficasse, por dez anos, limitado a 55% do valor do óleo diesel praticado pelas distribuidoras de combustível.

Em dezembro, a Petrobras havia decretado reduções graduais nos preços para consumo adicional de gás. Os dados levantados pelo engenheiro também mostram que, entre 1993 e 1997, a oferta total de energia aumentou 4,14%. Já a oferta de gás ficou 6,37% maior. Depois que o gasoduto Brasil-Bolívia entrou em operação, em 1999, houve uma revolução nos indicadores: a oferta total de energia entre 1998 e 2002 cresceu 1,33%. Já a de gás aumentou 23,56%.

Se a oferta de gás natural se elevou numa proporção muito maior que à da energia como um todo, significa que o gás substituiu outras fontes – conclui Charbel.

A venda de óleo combustível pelas distribuidoras, por exemplo, recuou 5,78% no período, com destaque para regiões alcançadas pelo gasoduto, como Sudeste (-5,57%), Sul (-7,91%) e Centro-Oeste (-7,33). Até 1997, essas áreas vinham apresentando aumento de consumo de óleo combustível. No Nordeste, o fenômeno vinha acontecendo antes de 1998 porque a Petrobras já abastecia a região com gás natural.

O Norte, que ainda não consegue receber amplamente o gás de Urucu, é a única região onde o consumo de óleo combustível aumenta (13,11%) no período.

Outro derivado que vem sendo substituído pelo gás natural é a gasolina C, cujo consumo recuou 1,17% entre 1998 e 2002 depois de aumentar 13,68% de 1993 a 1997.

No Sudeste, onde vêm sendo implementadas políticas de substituição de frotas de transporte público, foi onde houve a maior queda no consumo da gasolina de 1998 a 2002 (- 2,01%).

Charbel admite que houve uma desaceleração muito forte da economia no período – o que, em parte, justificaria a queda no consumo de combustíveis. Mas esta não é a única explicação:

A forte substituição da gasolina C e do óleo combustível pelo gás natural aceleram ainda mais um processo iniciado pela retração da economia.

A própria Petrobras, no balanço financeiro referente a 2002, relaciona um acréscimo de 13% no volume vendido de gás natural, como resultado da “contínua substituição ao óleo combustível pelas indústrias de transformação e à gasolina, para uso veicular, além do crescente fornecimento às termelétricas”.

Para o consultor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires, o ritmo de crescimento da participação do gás na matriz energética tem sido muito lento.

Ele lembra que a meta de 10% para esta participação foi criada há mais de 10 anos e que, mesmo após a entrada do Gasbol em operação, este valor só cresceu dois pontos percentuais.

Em outros países que têm as mesmas características de consumo e de extensão do Brasil, esse percentual está em torno de 15% – avalia. (Globo On Line)