O Brasil chega dividido à Conferência Mundial sobre Energias Renováveis, que começa nesta terça-feira (1) em Bonn (Alemanha) e dará continuidade à discussão sobre desenvolvimento sustentável iniciada em 2002 em Johannesburg (África do Sul), na Rio+10.
De um lado está o governo, representado pela ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, que também falará em nome da América Latina e do Caribe. Do outro, organizações não-governamentais ambientalistas, cuja posição tem o reforço do secretário paulista do Meio Ambiente, José Goldemberg.
O principal ponto de discórdia são as grandes usinas hidrelétricas. Dilma defenderá a inclusão delas na meta, definida em Johannesburg, de elevar a participação das fontes de energia renováveis para 10% da matriz energética mundial até 2010. Para ambientalistas e Goldemberg, no entanto, as hidrelétricas não se encaixam bem no perfil de projetos de geração de energia recomendável, do ponto de vista ambiental.
Renováveis ou não
“As hidrelétricas são fontes renováveis de energia”, disse o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, em defesa da posição oficial, num seminário na semana passada, em São Paulo. “Desafio qualquer um a provar o contrário.”
Para os ambientalistas, as hidrelétricas também não se encaixam no conceito de “novas” fontes renováveis de energia, como a solar, a eólica (do vento), a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Embora sejam renováveis no sentido técnico – os rios não acabam, como o petróleo, – podem provocar vários problemas.
“As grandes barragens feitas para gerar energia causam enormes impactos sociais e ambientais”, diz o coordenador da campanha de Energia do Greenpeace, Sérgio Dialetachi. “Elas inundam grandes áreas, desalojando pessoas e causando mudanças microclimáticas.”
Meta e financiamento
Para Lúcia Ortiz, da ONG Coalização Rios Vivos, a atual posição do Brasil é um retrocesso em relação à Rio+10. “Em Johannesburg, o País apresentou uma proposta de vanguarda, que é a meta dos 10% de energia renovável”, explica. “Agora, quer incluir as grandes hidrelétricas nesse índice. Assim, a América Latina não terá meta nenhuma. Com as grandes usinas sendo consideradas fontes renováveis, os 10% serão em muito ultrapassados.”
Na verdade, a discussão não é só conceitual. Hoje, 4% dos financiamentos do Bird – Banco Mundial são destinados a novas fontes renováveis. Há possibilidade de esse índice passar para 10%, elevando o investimento do Bird de US$ 80 milhões para US$ 200 milhões.
Se também forem consideradas fontes renováveis, grandes hidrelétricas poderão receber parte desse investimento. “Mas elas não precisam disso”, diz Goldemberg. “As hidrelétricas já dispõem de mecanismos comerciais de fomento.” (Estadão Online)