Sol passa por período de maior atividade em 8 mil anos

Da próxima vez que você se deitar na areia quente da praia durante o feriado, imagine o seguinte: aquele disco amarelo brilhando no céu que você usa para se bronzear é uma bola de gás incandescente de quase 5 bilhões de anos de idade e temperatura média de 5.500 ºC na superfície. Cada partícula de luz que atinge a sua pele foi gerada há milhares de anos no interior desse reator estelar e viajou 150 milhões de quilômetros em linha reta até bater nas suas células.

O resultado final pode ser um bronzeado dourado ou um câncer de pele, dependendo dos cuidados de cada um. O fato é que o Sol é essencial para a vida na Terra e um astro cada vez mais quente na lista de prioridades dos pesquisadores. Pois, apesar de sua gigantesca importância, ainda guarda muitos mistérios no escuro.

Uma das pesquisas mais recentes indica que o Sol está passando pelo seu período de maior atividade nos últimos 8 mil anos. Uma mudança praticamente imperceptível para as pessoas na praia, mas de grande influência sobre atividades espaciais e de telecomunicações, que são diretamente afetadas pelas intempéries solares. As explosões e ejeções de massa coronal lançam ao espaço gigantescas ondas de radiação e plasma que danificam satélites, podem causar apagões e até matar um astronauta desavisado.

Para reconstruir o histórico de atividade solar, os pesquisadores mediram a concentração de isótopos de carbono 14 (C-14) nos anéis de árvores fossilizadas há até 11 mil anos. A relação é inversa: “Quanto maior a atividade solar, menor a quantidade de C-14”, explica o especialista Pierre Kaufmann, coordenador do Craam – Centro de Rádio-Astronomia e Astrofísica Mackenzie e pesquisador da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. “Com o aumento da atividade solar, o espaço fica mais cheio de plasma e os raios cósmicos de origem não solar (que formam o C-14) são desviados do sistema solar e da Terra”.

A conclusão é que, considerada a média dos últimos 60 anos, o Sol nunca esteve tão ativo em 8 milênios. A pesquisa, publicada recentemente na revista Nature, é assinada por cientistas suíços, finlandeses e alemães. O autor principal é Sami Solanki, do Max Planck Institute for Solar System Research.

Influência no Clima – O Sol funciona em ciclos de 11 anos, tempo que ele leva para ir de um mínimo a um máximo e de volta a um mínimo. O ciclo atual termina em 2005, depois de um máximo registrado em 1998 e 1999. As explosões mais violentas, entretanto, ocorrem justamente perto dos mínimos, no início e fim do ciclo, segundo Kaufmann. A maior já registrada ocorreu em 4 de novembro de 2003, com força equivalente a centenas de bilhões de bombas atômicas. Como não estava voltada para a Terra, não causou estragos.

Umas das grandes incógnitas pendentes é sobre a influência dessa atividade solar sobre o clima da Terra e sua possível contribuição para o fenômeno de aquecimento global. “Pode ter havido uma influência do Sol sobre o clima nesse período, mas ainda é cedo para dizer isso. Precisamos pesquisar muito mais”, disse Solanki ao Jornal Estado de São Paulo, cauteloso. “O efeito na superfície do planeta não é bem conhecido, mas a influência sobre o clima é certamente grande”, aposta Kaufmann. (Herton Escobar/Estadão Online)