A utilização de agrotóxicos na agricultura sempre gera polêmicas e tem sido apontada como um dos principais meios de intoxicações, que representam atualmente um grave problema de saúde pública.
Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas relativos a 2000 mostram que os pesticidas de uso agrícola foram responsáveis por 7,0% das intoxicações e 37,0% dos óbitos por intoxicações no Brasil. E a venda do produto não pára de crescer.
Entre 1997 e 2000 houve um aumento médio de 18,0% nas vendas de agrotóxicos. Os trabalhadores rurais são os principais envolvidos em acidentes e, mesmo assim, são poucos os que utilizam equipamentos de proteção individual. Essa é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas.
A pesquisa foi desenvolvida entre os trabalhadores rurais dos municípios de Antônio Prado e Ipê, na Serra Gaúcha, e todos os dados foram obtidos com base em informações fornecidas pelos trabalhadores, entrevistados durante o verão de 1996. De acordo com artigo publicado na edição de setembro/outubro de 2004 dos Cadernos de Saúde Pública, foram entrevistados, em 495 unidades produtivas, 1.479 trabalhadores rurais com, em média, 42 anos de idade e 4,6 de escolaridade.
Segundo os pesquisadores, dentre os estabelecimentos, 95,0% informaram usar algum tipo de agrotóxico e 73,0% faziam uso regular e intensivo de agrotóxicos na agricultura. Em relação aos trabalhadores, 75,0% relataram trabalhar regularmente com agrotóxicos. Eles verificaram que quanto maiores a jornada de
trabalho agrícola e a renda da produção, maior a exposição aos agrotóxicos.
No que se refere à utilização de equipamentos de proteção individual, a equipe verificou que mais de 35% dos trabalhadores nunca haviam usado luvas, máscaras ou roupas de proteção. E o problema se agravava ainda mais entre os de menor nível de escolaridade.
Os pesquisadores constataram ainda que 2,0% dos 1.105 agricultores que trabalhavam com agrotóxicos tiveram intoxicações por estes produtos num período de 12 meses e que 12,0% relataram pelo menos um episódio de intoxicação ao longo de sua vida. No entanto, apenas 20% dessas intoxicações foram consideradas graves, sendo necessário buscar assistência hospitalar. Eles observaram também que 96% dos casos foram subnotificados e que os produtos responsáveis pelo maior número de ocorrências foram os fungicidas.
Dessa forma, a equipe alerta para a necessidade de um planejamento das atividades das entidades responsáveis pela proteção da saúde dos agricultores que vise à prevenção de novos casos de intoxicação por estes produtos: “também é importante apoiar a busca de novo modelo de produção agrícola, reduzindo a exposição química e melhorando a qualidade da vida durante o trabalho”.(Agência Notisa)