Novos painéis, anotações pessoais e a valorização do homem, fazendo um contraponto ao mito, são as principais novidades que o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, apresentou ao público presente durante a reinauguração do Memorial Chico Mendes, que aconteceu na quinta-feira (22), no parque que leva o mesmo nome do sindicalista e ambientalista acreano morto há 17 anos.
O espaço cultural busca resgatar a memória daquele que inseriu no contexto mundial a preocupação com o meio ambiente e a necessidade de implementação de políticas públicas de desenvolvimento auto-sustentável, conceito que a cada dia ganha mais força internacional.
A inauguração ocorreu em meio a uma programação festiva e bucólica, num cenário recheado de verde e de animais silvestres que, em 2006, ganharão um centro de triagem, no qual a prefeitura irá consumir cerca de R$ 400 mil. No memorial, é possível apreciar grandes momentos da vida de Chico Mendes no movimento sindical e na vida pessoal.
Em sua homenagem, o grupo teatral da Fetacre – Federação Acreana de Teatro encenou a peça “Empate”, de autoria da teatróloga mineira Dani Rodrigues. O título da obra define a tática utilizada pelo ambientalista para se contrapor à “gana” dos pecuaristas oriundos do Sul do país que vieram para ocupar o Acre a partir da década de 70. Chico Mendes entendia que não seria a agricultura ou a pecuária extensiva a solução para o desenvolvimento da Amazônia e, por conseqüência, do Acre.
As ações avassaladoras dos novos proprietários de terra do período resultaram em vários confrontos com pequenos agricultores e extrativistas, muitos deles resultando em mortes, quase sempre no lado mais fraco desses confrontos. Os empates, contudo, eram manifestações passivas, mas de grande eficácia.
O Memorial Chico Mendes, em Rio Branco, conta essas histórias e pretende, segundo o prefeito Raimundo Angelim, “manter viva a luta e as lições deixadas por ele”. O prefeito vai além e compara o ambientalista acreano com o maior ícone da militância política baseada na guerrilha da América Latina: “Ninguém encarna melhor a célebre frase do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara como Chico Mendes”, disse.
Angelim se referiu a uma frase na qual Guevara, um dos líderes da revolução cubana, ao lado de Fidel Castro, apregoava a necessidade de “sermos duros, mas sem perder a ternura jamais”, numa tradução livre.
Durante a cerimônia de reinauguração do Memorial Chico Mendes, o governador Jorge Viana, ladeado por diversos secretários municipais e estaduais, além dos senadores Tião Viana e Sibá Machado, ambos do PT acreano, anunciou a construção de um outro memorial dedicado a Chico Mendes, dessa vez em Xapuri, terra natal do sindicalista.
A obra, que será construída no primeiro semestre do ano que vem, terá padrão arquitetônico e funcional comparável a grandes monumentos semelhantes existentes no mundo. Lá serão depositados os restos mortais do ambientalista.
A filha mais jovem de Chico Mendes, Elenira Mendes, atual presidente da fundação que leva o nome do pai, e Júlia Feitoza, presidente do Comitê Chico Mendes, também participaram da inauguração. Em uníssono, Elenira, Júlia, Angelim e Jorge Viana destacaram a necessidade de que a obra e o ideário de Chico Mendes se perpetuem.
“Podemos ver no dia 22 de dezembro um dia triste, pois foi nesta data que Chico Mendes foi assassinado, mas também é uma data que nos dá um alento, uma esperança de que a luta dele deve continuar e ser repassada às futuras gerações, como exemplo a ser seguido”, disse o governador. (Página 20/AC)