No que depender da comunidade científica brasileira, 2007 será um ano gelado. Os pesquisadores preparam, juntamente com o Ministério da Ciência e Tecnologia, um plano para ampliar o Proantar – Programa Antártico Brasileiro, que inclui a montagem da primeira estação nacional no interior da Antártida e um orçamento de R$ 36 milhões em três anos.
A proposta, batizada Agenda Antártica 2006-2010, foi elaborada no fim de 2005 e atualmente passa por discussão no MCT. Ela tem como objetivo preparar o Brasil para o Ano Polar Internacional, que ocorrerá em 2007-2008. O Ano Polar é o principal evento científico do gênero – no último deles, em 1957-1958, por exemplo, foi construída a base americana no pólo Sul.
A agenda prevê a seleção, a partir de novembro deste ano, de projetos de pesquisa que possam integrar as atividades internacionais do Ano Polar. No final de 2007 seria provavelmente iniciada a montagem de uma estação de verão, uma espécie de acampamento ultra-sofisticado para funcionar durante três meses. O local escolhido é Patriot Hills, uma região do interior da Antártida onde países como o Chile, por exemplo, já fazem pesquisa.
“O Brasil está na Antártida há mais de 20 anos e nunca entrou no continente”, disse à Folha o glaciologista Jefferson Cardia Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que ajudou a elaborar a proposta para o MCT.
Os estudos nacionais se restringem às ilhas subpolares ao longo da península Antártica, como o arquipélago das Shetlands do Sul. É ali que estão a estação Comandante Ferraz e quatro refúgios usados pelos cientistas.
Acontece que 99% do continente antártico é coberto de gelo. E é nessa região, de mais de 13 milhões de quilômetros quadrados que estão as respostas para questões importantes sobre o clima da Terra – e da América do Sul – e como ações humanas o têm modificado ao longo do último século. As mudanças globais devem ser o ponto-chave do Ano Polar.
Os pesquisadores também propõem que o Programa Antártico seja expandido também por meio da criação de bolsas de pós-doutorado para cientistas da área. Segundo Simões, isso é essencial para a continuidade do Proantar, criado em 1982 para garantir a adesão do Brasil ao Tratado da Antártida, clube de nações que gerencia o continente.
“A agenda é uma lista de desejos da comunidade científica, não é uma relação do que o MCT vai conseguir”, diz Cordélia Machado, coordenadora de Políticas e Programas para o Mar e a Antártida do ministério.
Segundo ela, há dois obstáculos: o fato de 2006 ser um ano eleitoral e a falta de dinheiro para a logística das operações, a cargo da Marinha, que neste ano está mais no vermelho do que o habitual.
“Acreditamos que dê pelo menos para chegar perto (dos R$ 36 milhões) usando fundos setoriais”, disse Machado, apontando o Ano Polar como uma “oportunidade” para o Brasil. “No de 1957/58 foram exploradas todas as tecnologias desenvolvidas na 2ª Guerra. Esse ano é uma oportunidade de explorar tecnologias novas, como análise genômica e sensoriamento remoto.” (Claudio Angelo/ Folha Online)