Quando se pensa como serão os meios de transporte do futuro, logo vêm à cabeça aquelas imagens de naves trafegando pelos céus dos centros urbanos, como as representadas nos desenhos animados. Mas a evolução dos transportes está longe disso, pelo menos a curto e médio prazos. O tipo de energia que vai mover principalmente os veículos terrestres é a grande inquietação. Daqui a alguns anos, os motoristas vão deixar de abastecer seus carros com gasolina. Além do álcool, uma tecnologia alternativa já consolidada, os veículos dependerão das energias renováveis para rodar pelas ruas e estradas.
Estima-se que o petróleo vai se esgotar daqui a 70 ou 80 anos. Hoje, o preço do barril do petróleo já assusta. Esses fatores, somados ao fato de ter que se reduzir a poluição ambiental, estimulam os estudos e pesquisas sobre fontes de energia alternativas, como a solar, a nuclear, a proveniente de biomassa ou vegetais (que produzam óleos).
Quando a situação do petróleo apertar, o Brasil será um dos poucos países que sairão do caos com vantagem. Por ter um vasto território que pode ser cultivado, poderá criar uma boa oferta de combustíveis renováveis, como os provenientes da madeira e da cana-de-açúcar (álcool). “A energia solar, por enquanto, tem um custo muito elevado. A energia nuclear possui grandes problemas quanto à segurança. A renovável e de biomassa têm grandes vantagens. Sairão na frente os países com grandes áreas cultivadas”, explica o professor Fernando Tadeu Boçon, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Outra fonte alternativa é a energia elétrica.
Apesar de todos saberem que o petróleo um dia vai acabar, e essa data está cada vez mais próxima, dificilmente novos sistemas de energia serão implementados logo. Para o professor Ramón Sigifredo Cortés Paredes, também da UFPR, ainda falta muito investimento no desenvolvimento de novas tecnologias para os combustíveis alternativos. “Para se chegar a isso, tem que haver investimento em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, os estudos estão focados em algo menos abrangente, muito específico. Falta aquele organismo que pegue o projeto e implemente. Não se vê claramente políticas de Estado para isto. Apenas algumas instituições, como a Petrobras, estão preocupadas com isto. A Petrobras financia pesquisas com biodiesel, já pensando no futuro, quando não terá mais petróleo para comercializar”, opina.
O mundo começa a pensar em combustíveis alternativos. Alguns países, como Estados Unidos e Japão, tiveram interesse em saber como funciona e como seria implementada uma tecnologia genuinamente brasileira desenvolvida na década de 1970, que será uma alternativa eficiente quando o petróleo acabar. O álcool, um velho conhecido dos brasileiros, é um biocombustível. “Já temos a tecnologia de produção e refino, além dos motores bem desenvolvidos. Quando o petróleo ficar mais caro, vai ter que existir uma política de Estado para viabilizar uma produção maior, com mais usinas. Ainda produzimos relativamente pouco em comparação ao potencial do álcool. Quando o petróleo realmente se esgotar, o álcool será uma alternativa muito viável”, relata o professor Fernando Boçon. De acordo com ele, os países desenvolvidos podem até preparar tecnologias próprias, mas vão ser atraídos a adotar um sistema pronto, cuja viabilidade já está comprovada, como é o caso do álcool.
Tráfego aéreo tende a crescer na capital paranaense
A Curitiba do futuro também terá um tráfego aéreo intenso, com um vai e vem de helicópteros. Como já acontece em grandes centros urbanos, como São Paulo, os helicópteros se tornaram alternativa para fugir dos megacongestionamentos e atravessar grandes distâncias em minutos com segurança. Reflexos dessa tendência são a construção de helipontos (prédios comerciais de grande porte já estão sendo construídos com esta estrutura, além dos particulares) e a procura por cursos para se tornar piloto de helicóptero.
Jeferson Gama da Silva, administrador do Aeroclube do Paraná, conta que existe uma enorme procura pelos cursos para helicópteros oferecidos pela entidade. A tendência é aumentar cada vez mais, pois a demanda também se tornou grande. “Geralmente as pessoas já conseguem emprego logo depois de concluir o curso. É uma área menos concorrida do que a de pilotos de avião”, afirma.
O interessado em ser piloto de helicóptero precisa passar por aulas teóricas durante quatro meses. Depois, vêm 35 horas de prática, para se tornar um piloto privado. Se o objetivo é se tornar piloto comercial, é necessário enfrentar mais 115 horas de vôo e uma outra prova teórica. Menos pilotos de helicóptero são formados, em relação aos de aviões, por causa dos valores gastos na preparação. Para alugar um helicóptero e fazer as aulas práticas se desembolsa entre R$ 550 e R$ 600 por uma hora.
Ferrovias ainda são subutilizadas
Um antigo meio de transporte, que anda esquecido no Brasil, pode se tornar o sistema do futuro para transportar passageiros e cargas. As ferrovias perderam importância no País, mas continuam sendo uma opção rápida, que poupa energia e polui menos. “Seria necessária aplicação em infra-estrutura, em ferrovias e maquinário. É um ótimo meio de transporte para cargas e passageiros, sendo subutilizado hoje em dia”, aponta o professor Fernando Boçon, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR.
De acordo com ele, se gasta muito dinheiro na construção e recuperação de rodovias, que são rapidamente consumidas. “As ferrovias são mais baratas no transporte de longas distâncias, como no escoamento da produção de grãos e minérios. Deveriam ser mais utilizadas nestes casos. As rodovias serviriam apenas para as pequenas distâncias”, afirma.
As ferrovias seriam um boa opção dentro dos centros urbanos também, na visão do professor. “Os veículos ferroviários movidos a eletricidade são feitos para transportar um maior volume de pessoas, com menor custo, menores índices de poluição e maior velocidade. Será uma solução inevitável, seja subterrâneo (como o metrô), na superfície ou suspenso. Aí existem questões urbanísticas para encontrar a melhor alternativa”, conta Boçon.
Metrô não é uma realidade muito distante em Curitiba
O sistema de transporte de Curitiba, com a sua inserção no planejamento urbano da cidade, é um dos mais elogiados do País. É o terceiro em volume de passageiros transportados em todo o Brasil, perdendo apenas para os metrôs de São Paulo e do Rio de Janeiro. Mas o sistema sobre rodas está chegando perto de seu limite de saturação, além de existir o fator poluição ambiental. “Curitiba se notabilizou pelo planejamento urbano, reservando espaços para a cidade crescer. Agora, precisa ser inovadora nos espaços futuros e também no transporte coletivo. É preciso imaginar como será o transporte em 2040. E é aí que surge o metrô. Sete das nove regiões metropolitanas mais importantes do País têm metrô”, afirma Luiz Henrique Cavalcanti Fragomeni, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). A longo prazo, não vai ser possível pensar em Curitiba sem um tipo de metrô, seja ele subterrâneo, sobre trilhos ou elevado.
Ele explica que Curitiba quer ser inovadora nesse sentido também. A intenção é trazer um novo meio de transporte coletivo com a cara da cidade e da Região Metropolitana. Já foram pensadas algumas alternativas, mas que não sobressairiam quanto ao tipo de transporte existente hoje na cidade.
Segundo Fragomeni, o prefeito Beto Richa já pediu um estudo aprofundado sobre o assunto. Um dos pontos mais importantes é definir o momento certo de migração para o metrô. O presidente do Ippuc defende uma transição em bases seguras. “Só nos restou aprofundar a discussão sobre o metrô. Mas há vários tipos. Quem sabe um veículo especialmente desenhado para a cidade? É preciso ainda definir o conceito, a tecnologia e espaço. A construção de um metrô subterrâneo, por exemplo, envolve muitas desapropriações e uma escavação profunda. Mas Curitiba tem uma grande vantagem, pois possui as canaletas dos ônibus Expresso”, dispara Fragomeni.
O presidente do Ippuc deixa claro que o sistema de ônibus não desapareceria com o metrô, que traria conforto e segurança ao usuário, além do ganho ambiental (os veículos são movidos por eletricidade). “A longo prazo, é o caminho para Curitiba, mas com um projeto adequado. O estudo mais aprofundado já começou. Este ano será o de encaminhamento dos trabalhos, para em 2007 colocar uma perspectiva de mudança do modal de transporte da cidade”, anuncia Fragomeni.
(Fonte: Joyce Carvalho / Paraná-online)