Acidentes com a pulverização aérea de agrotóxicos são comuns no país. É o que avalia o coordenador da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, o engenheiro agrônomo Ventura Barbeiro. Para ele, o acidente que aconteceu há dois meses no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, repete-se em muitos outros locais do país pela falta de fiscalização eficiente dos órgãos públicos e pela utilização de veneno em larga escala na agricultura.
O ambientalista ressalta que o Greenpeace acompanhou o caso e o classificou como uma situação típica de regiões que utilizam intensivamente a pulverização aérea de agrotóxicos. “Você pulveriza com avião em dia de vento, esse vento carrega o produto químico até a aérea urbana, ou até a área que não deveria ser atingida. Isso é chamado tecnicamente de deriva, ou seja, o veneno é levado por micropartículas. Se o avião passa a uma altura um pouco mais elevada, o agrotóxico é carregado a uma longa distância, principalmente dependendo da temperatura, da umidade do ar e da velocidade do vento”, explicou.
Barbeiro explicou que esses casos de deriva são corriqueiros em cidades pequenas onde a atividade agrícola faz divisa com a área urbana. “Isso ocorre em inúmeras cidades no Brasil. Em algumas cidades há acordo entre a prefeitura e os agricultores para que se respeite uma certa distância para a aplicação de agrotóxicos. No Mato Grosso, esse processo de deriva e a chuva levam os agrotóxicos para os rios e já há pesquisas que indicam a contaminação das principais bacias hidrográficas.”
O engenheiro apontou para a necessidade de os prefeitos de cidades que convivem com esse problema “perceberem” o custo do problema para o município. “O custo no sentido de pessoas que param de trabalhar porque estão intoxicadas, o custo que isso gera para a prefeitura por causa da demanda de saúde publica para atender aos casos de doença com a contaminação, como é o caso de Balsas no Maranhão, aonde não se consegue mais dar assistência médica a toda a população devido a grande demanda que existe para atendimento aos casos de contaminação por agrotóxicos”, comparou.
Para ele, no custo social está a conseqüência do veneno a longo prazo. “Você não tem um produto inofensivo, inócuo. Ele se chama agrotóxico e é conhecido popularmente como veneno. Essa carga constante, ano após ano, seja nas águas, no ar ou nos alimentos vai gerando intoxicação coletiva a longo prazo”, advertiu.
Sete dias após a pulverização irregular de agrotóxicos que atingiu o segundo maior produtor de grãos do país, o município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, a promotora do Ministério Público Patrícia Euleutério Campos recebeu as denúncias do caso e abriu investigação. A Delegacia de Polícia Civil, o Indea – Instituto de Defesa Agropecuária e o Ministério da Agricultura no estado também acompanham o caso. Até agora, nenhum dos órgãos colheu provas materiais que indiquem os responsáveis. (Paulo Machado/ Agência Brasil)