Mudança climática induzida pela atividade humana, e não ciclos naturais, pode ser responsável pelo recente aumento na freqüência e intensidade dos furacões no Atlântico Norte, de acordo com pesquisadores da Universidade Penn State e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O trabalho dos cientistas aparecerá numa edição da revista EOS, da sociedade Geofísica Americana.
O professor de Meteorologia e Geociências Michael E. Mann, e o professor de Ciências Atmosféricas Kerry A. Emanuel analisaram os registros globais da temperatura na superfície dos oceanos, freqüência dos furacões, impacto da poluição a chamada Oscilação Atlântica Multidécada (AMO) – um ciclo dos oceanos semelhante, mas menos intenso, que o responsável pelos fenômenos El Niño/La Niña.
Alguns cientistas sugerem que o ciclo AMO, de 50 a 70 anos, é o fator mais importante no aumento da quantidade e violência dos furacões, mas o modelo estatístico elaborado por Mann e Emanuel indica que o único responsável é a temperatura na superfície do oceano, moderada pelo efeito refrigerador de alguns poluentes da atmosfera baixa.
“Só temos um bom registro dos furacões e temperatura da superfície por pouco mais de 100 anos”, diz Mann. “O que significa que só observamos um ciclo e meio da AMO. Pesquisas sugerem que esse sinal existe, mas é difícil estimar o período e a magnitude da oscilação”.
Pelo modelo desenvolvido pelos pesquisadores, a verdadeira questão passa a ser a causa do aumento da temperatura no Atlântico. Os cientistas descobriram que o efeito aparente da AMO desaparece quando a tendência de resfriamento registrada entre 1950 e 1980 não é incluída nos dados.
“Esse padrão de resfriamento no final do século 20 é atribuído à produção de poluição por seres humanos”, dotam Mann e Emanuel. Esse efeito humano estava “disfarçado” no ciclo natural. Embora alguns gases produzidos pelo homem, como o CO2, produzem aquecimento global, outros poluentes, como os óxidos de nitrogênio, baixam a temperatura na baixa atmosfera, ao refletir a luz do Sol.
Por conta dos ventos e correntes de ar, poluentes da Europa e América do Norte movem-se para áreas sobre o Atlântico tropical. O impacto é maior durante o final do verão, exatamente no período de maior atividade de furacões. Quando Mann e Emanuel usam as tendências de temperatura global e o impacto refrigerador dos poluentes, eles são capazes de explicar tanto a temperatura no Atlântico quanto os furacões, sem necessidade de apelar para a AMO.
Se o efeito dos poluentes refrigeradores não forem levados em conta, a previsão de furacões supera o número registrado. Isso sugere que essa refrigeração ajuda a moderar o número de tempestades. (Estadão Online)