Era 11 de setembro de 2001, o mundo assistia ao ataque terrorista em Nova York quando Binha, com 210 gramas, era encontrada abandonada na zona norte de São Paulo. Seu nome foi uma alusão ao saudita Bin Laden, o mentor do ataque.
Hoje, “casada” e mãe de um macaquinho de quatro meses, Binha vai voltar para a mata dentro de São Paulo após cinco anos vivendo em uma gaiola no parque Ibirapuera. Ela é um dos 18 bugios, macaco ameaçado de extinção, que vão voltar para a mata a partir de outubro, após dez anos de experimentos da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
No período, 21 macacos foram levados de volta à mata e 12 descenderam desses bichos.
O projeto surgiu da necessidade de pesquisar e de readaptar bugios expulsos das matas, principalmente, pelo avanço de condomínios e de favelas sobre o que resta da mata atlântica paulistana.
Entre 1992 e janeiro deste ano, foram capturados 138 exemplares – 61,6% em áreas limítrofes à serra da Cantareira, onde um censo realizado nos anos 80 apontou uma população de 4.000 a 5.000 deles.
Um mapa digital que relaciona os locais onde os animais foram localizados revela a influência do desmatamento sobre a fuga do bugio da floresta.
Muitos morreram atacados por cães ou eletrocutados. Outros sobreviveram no cativeiro. Os demais já estão de volta a matas da zona sul de São Paulo.
Na vida selvagem, os bugios costumam habitar a copa de árvores altas e se alimentar de brotos e folhas. Eles vivem em bandos e são inteligentes.
Binha, como seus colegas de cativeiro, teve que se adaptar. Nas gaiolas, é preciso fornecer frutas para complementar sua alimentação. Simpática, ela logo deixa o fundo da gaiola, com cerca de 10 m3, com o filho nas costas ao perceber pessoas.
O bugio, que na idade adulta chega a cerca de 6 kg, foi colocado entre as espécies ameaçadas de extinção devido à caça – um osso de seu pescoço é usado como remédio contra asma -, ao tráfico de animais e ao desmatamento do habitat.
“Eles chegam filhotes, feridos por cães ou caçadores e eletrocutados. Também há casos em que um deles é expulso do grupo em disputas”, diz Vilma Clarice Geraldo, diretora da divisão da secretaria envolvida diretamente no projeto.
O projeto recebeu uma verba de R$ 95 mil de um fundo ligado à prefeitura. Segundo a bióloga Brígida Gomes Fries, que integra o trabalho, o dinheiro vai tornar possível que, a partir de agora, os animais reintroduzidos sejam monitorados.
Os bugios receberão uma espécie de anel que transmitirá sinais de rádio. Com antenas, os técnicos poderão acompanhar como ele se desloca e do que se alimenta.
Porém, são anos de adaptação até que eles possam ser mandados de volta. É preciso, por exemplo, soltar o animal em grupos. Binha tem um companheiro mais velho e agora são uma família, com o filho.
Para escolher a área onde os bugios passarão a viver, foi preciso avaliar as opções de alimentação e fazer um trabalho de convencimento dos moradores do entorno.
Outro item importante é a disponibilidade de área: cada casal ocupa cerca de 80 mil m2 e se desloca à procura de alimento. Em razão disso, o grupo da Secretaria do Verde conta com a ajuda da Sabesp, que, junto com as contas de água, distribuirá informes sobre o projeto ecológico.
“As pessoas precisam gostar, evitar que cães ataquem os bugios, se envolver com o projeto, ajudar a protegê-los”, diz a bióloga da secretaria. (José Ernesto Credencio/ Folha Online)