O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou nesta terça-feira (10) a primeira previsão de vazante do rio Negro, no Amazonas. A previsão, feita em parceria com a ANA – Agência Nacional de Águas e o Sipam – Sistema de Proteção da Amazônia, é que no dia 30 de outubro o rio Negro esteja com altura de 15,63 metros no porto de Manaus (AM) – e que suas águas comecem a subir a partir do próximo dia 20. Na maior seca já registrada, em 1963, o rio Negro chegou a 13,64 metros na capital amazonense; em 2005, a mínima foi de 14,75 metros.
Desde 1902 é feito o acompanhamento sistemático do nível do rio Negro, em Manaus (AM). Mas até então a CPRM só previa o comportamento das águas para o período das cheias. “A seca de 2005 criou uma pressão da sociedade por essa nova informação”, explicou o engenheiro hidrólogo da CPRM, Eber José de Andrade Pinto. “O modelo de previsão da cheia não funciona para a seca, porque a subida do rio é mais lenta que a descida e está sujeita a outras influências, como o remanso (quando o volume de um rio bloqueia o outro)”.
Andrade Pinto ponderou que esse modelo de previsão da vazante ainda precisa de aperfeiçoamentos. Por isso, ele informou que se trabalha com um período curto de antecedência, de apenas 20 dias – enquanto que a previsão da cheias vale para um intervalo de 75 dias. Esses alertas de vazante deverão ocorrer quatro vezes por ano, em datas fixas: 1º e 20 de setembro e 10 e 30 de outubro.
Ele explicou que como o intervalo de tempo da previsão é conservador, sua margem de erro é pequena, de menos de 1% (considerando a faixa de variação de 40 centímetros para mais ou para menos). “Nos dois testes que fizemos, o acerto foi excelente”, comemorou o engenheiro hidrólogo. “No dia 20 de setembro a gente previu que o nível do rio Negro estaria hoje em 17,93 metros. De fato, ele está com 17,80 metros”.
Das 302 estações hidrológicas espalhadas pela Amazônia, apenas seis estão sendo consideradas nessa previsão, as de Manaus, Barcelos, Canutama (base de Itapeuá), Beruri e Manacapuru, todas no Amazonas. “Nossa intenção é futuramente disponibilizar esse serviço também para os municípios do interior”, disse Andrade Pinto.
A média da altura mínima do rio Negro em Manaus, nesses 104 anos de acompanhamento, foi de 17,59 metros. Mas Andrade Pinto esclareceu que ela não serve como parâmetro de alerta para os serviços de defesa civil. “Ainda estamos trabalhando na definição de uma cota de emergência, o que deve estar pronto no próximo ano”, justificou. “É preciso definir os critérios de alerta, como interferência na navegação e prejuízos aos ribeirinhos, por exemplo”.
O chefe da Divisão de Meteorologia do Sipam, Ricardo Da la Rosa, desfez o temor de que o fenômeno do El Nino (superaquecimento das águas do oceano Pacífico) interfira na vazante dos rios da Amazônia. “Os efeitos do El Nino devem começar a ser sentidos aqui entre o final de novembro e o início de dezembro. Vai chover um pouco menos, principalmente na parte leste da região, no Pará”, detalhou. “Esse impacto acontecerá durante a estação chuvosa, então sua influência sobre o volume dos rios será menor”.
O meteorologista esclareceu que em junho, julho e agosto as chuvas na Amazônia estiveram dentro do esperado. “Não houve anomalias gritantes. Apenas no noroeste do Amazonas (região conhecida como Cabeça do Cachorro) a precipitação esteve ligeiramente abaixo do normal, e em Roraima, ligeiramente acima”, informou.
Confirmada a previsão da CPRM, esta será a 13ª seca mais severa dos últimos 104 anos – a do ano passado, que deixou dezenas de municípios em estado de calamidade e centenas de ribeirinhos isolados, foi a sétima. (Thaís Brianezi/ Radiobrás)