Horas depois de o Brasil apresentar na COP12 – 12ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU uma proposta para compensar países que reduzem o desflorestamento, diminuindo, assim, emissões de gases causadores do efeito estufa, o diretor-executivo da convenção, Yvo de Boer, anunciou a realização de um encontro, até junho de 2007, para discutir detalhes da idéia brasileira. No plenário, entretanto, a proposta foi recebida com aparente indiferença.
Segundo De Boer, o workshop detalhará a metodologia a ser utilizada caso a iniciativa brasileira seja aprovada. Outras propostas, como a do grupo de países que formam a Coalizão de Nações com Florestas Tropicais, liderados por Papua-Nova Guiné, ou de nações da bacia do Congo (África), serão discutidas na tentativa de chegar a um consenso ou a posições complementares.
De Boer reforçou que emissões de desmatamento são importantes – segundo ele, eqüivalem a 20% do total global (especialistas falam em 9% a 15%) – e que a inclusão desse tema na convenção ou no Protocolo de Kyoto deve acontecer.
A proposta brasileira prevê a criação de um fundo voluntário, com recursos de países ricos, para ser distribuído entre nações com florestas tropicais que reduzam o seu desmatamento. A iniciativa foi apresentada pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e pelo secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, durante uma sessão do Diálogo de Ações Cooperativas de Longo Prazo sobre Mudanças Climáticas.
Após a apresentação, o coordenador da reunião abriu a palavra para comentários e perguntas “urgentes” – que não vieram. Após elogiar a disposição brasileira de trazer uma proposta sobre um tema bastante relevante, o coordenador seguiu para o próximo tópico, frustrando quem esperava um debate acalorado sobre a iniciativa. Marina atribuiu a falta de perguntas ao atraso na pauta da reunião e ao fato de a proposta ser um tema para discussões internas entre as delegações.
Para o secretário-executivo do Fórum sobre Mudança Global do Clima e Biodiversidade de São Paulo, Fábio Feldman, o “Diálogo” não foi o melhor lugar para apresentar a proposta, que precisaria ser apreciada por um grupo com maior peso. O anúncio feito mais tarde por De Boer, porém, deu o incentivo que o governo brasileiro precisava para levar adiante as negociações na COP12.
Reuniões com diversos chefes de delegação estão programadas para acontecer até amanhã, último dia da COP12. Na avaliação do Meio Ambiente, a proposta tem viabilidade técnica. Bastaria, agora, garantir condições políticas.
Além de falar do fundo voluntário, o país aproveitou para apresentar os resultados do programa de combate ao desmatamento na Amazônia. Segundo Marina, ao dizer que reduziu em 52% o desmate em dois anos e que deixou de emitir cerca de 128 mil toneladas de carbono, o Brasil provou que “faz o tema de casa”. (Ana Flor/ Folha Online)