Espécies de animais e plantas estão desaparecendo ou mudando antes que o previsto, por conta do aquecimento global, afirma uma revisão de centenas de estudos realizados sobre o assunto. As alterações, extremamente rápidas, surpreendem até mesmo biólogos e ecologistas, por conta da velocidade com que ocorrem.
Pelo menos 70 espécies de rãs, a maioria moradoras de montanhas e que não tinham para onde fugir do calor crescente, extinguiram-se por causa do aquecimento global, diz a análise. O trabalho também informa que entre 100 e 200 outras espécies que dependem de temperaturas baixas para sobreviver, como pingüins e ursos polares, estão em grave perigo.
“Finalmente, estamos vendo espécies se extinguir”, diz a bióloga Camille Parmesan, autora da avaliação. “Agora temos a evidência. Está aqui. É real. Não é só uma intuição dos biólogos. É o que está acontecendo”.
A avaliação, envolvendo 866 estudos científicos, é apresentada no periódico Annual Review of Ecology, Evolution and Systematics.
Parmesan informa ter encontrado tendências de deslocamento de populações de animais deslocando-se para longe do equador quando podem, ou espécies sofrendo adaptações para dar conta do calor, ou plantas florescendo mais cedo, e um aumento na proliferação de pragas e parasitas.
A bióloga e outros pesquisadores vinham prevendo essas mudanças há anos, mas ela mesma se diz surpresa com a evidência de que os processos já estão em curso; Parmesan esperava esses resultados para dentro de uma década.
Há cinco anos, os biólogos imaginavam que os efeitos nocivos do aquecimento global sobre os seres vivos só apareceriam num futuro mais distante, disse o professor de ecologia da Universidade de Nova York, Douglas Futuyma. “Sinto como se estivéssemos olhando a crise na cara”, disse ele. “A coisa não está parada em algum ponto na estrada à nossa frente: está vindo à toda, em nossa direção. Qualquer um com 10 anos de idade hoje encarará um mundo muito diferente e assustador quando chegar aos 50 ou 60”.
Embora outros estudos já tivessem apontado problemas causados pelo aquecimento global em áreas ou espécies individuais, o trabalho de Parmesan é o primeiro a mostrar o quadro geral das alterações induzidas pela mudança climática, afirma Chris Thomas, professor de biologia na Universidade de York, Inglaterra.
Embora seja impossível provar, acima de qualquer dúvida, que as mudanças anotadas na análise são efeito do aquecimento global, a evidência é tão forte e a falta de outras explicações plausível é tão grande, que é “virtualmente impossível, estatisticamente, que essas sejam meras observações ao acaso”.
As mudanças mais fáceis de notar, em plantas e animais, envolve a antecipação do início da primavera, diz Parmesan. O melhor exemplo aparece no florescimento antecipado de cerejeiras e na colheita precoce da uva, e em 65 espécies de pássaros da Grã-Bretanha, que hoje põem os primeiros ovos nove dias mais cedo do que há 35 anos.
Parmesan diz preocupar-se mais com as espécies bem adaptadas ao frio, como os pingüins-imperadores, que já caíram de 300 casais reprodutores para apenas nove na parte oeste da Península Antártica. (AP/ Estadão Online)