Agora garantidos por lei, sancionada na sexta-feira (22) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a preservação e o uso racional da Mata Atlântica são essenciais não só para a preservação da biodiversidade, mas também para os mananciais de água que abastecem grandes cidades e para a garantia da estabilidade climática.
“Cuidar dessa mata não significa meramente garantir o habitat natural de espécies, mas mantê-la por ser o principal produtor de água de que se pode dispor, além da importância que tem para garantir estabilidade climática, que interessa a todo o planeta”, diz o diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani.
Em entrevista à Rádio Nacional AM, ele se revelou otimista no que se refere à possibilidade de recuperação de áreas depredadas, com os termos da nova lei. “Nós temos um caso de recuperação que é fantástico no Brasil”, conta o diretor, em referência à floresta da Tijuca, no Rio, hoje uma das reservas naturais em área urbana em todo o mundo.
“No século 18, Dom Pedro 2º ordenou que os escravos não recorressem mais à floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, para fazer carvão, porque a água estava escasseando, em razão de predação”, contou. “Hoje os turistas que visitam o Parque Nacional da Tijuca se encantam com a maravilha que encontram na floresta inteiramente recuperada.”
O diretor diz que a nova lei chega “em boa hora”, porque não há mais condições de que atividades econômicas se expandam sobre as áreas remanescentes de mata. “O interesse imobiliário é hoje um dos grandes problemas da Mata Atlântica, afetada pela exploração de mineração e por atividades rurais”, disse.
“Ela já teve 93% de sua área destruída, para uso da pecuária e da agricultura. No entanto, apenas 40% desse espaço está sendo utilizado, sendo que os demais 50% estão completamente abandonados.”
Mário Montovani diz que a Mata Atlântica é um “paciente internado na UTI”, com “7% de chance de sobreviver”. A nova lei, segundo ele, é como um tratamento médico para o bioma. Apesar de todos os estragos feitos até aqui, ele lembra que ainda é alta a concentração de biodiversidade nas matas remanescentes. No sul da Bahia, segundo ele, há 456 espécies vegetais de porte arbóreo por hectare, enquanto, em toda a Europa, “onde tiver muita biodiversidade tem 20”.
“A água que cada um de nós brasileiros está bebendo, nesses 17 estados que compõem a Mata Atlântica, é benefício direto da floresta”, destaca ainda Mantovani. O diretor critica o fato de que não há instrução nas escolas sobre o assunto. “Aqui no Brasil há muito mais informação sobre a Mata Atlântica de Nova York e de lugares da Europa, do que mesmo do próprio Brasil. As universidades ainda não geraram conhecimento sobre o assunto e existe muito parque do governo abandonado.”