Até o final do século 21, o aquecimento global provocado pela emissão de gases do efeito estufa poderá transformar o Brasil em um país com desertos no Nordeste, tempestades violentas no Sul e no Sudeste, mais casos de dengue, febre amarela e encefalite e sem algumas de suas principais áreas costeiras, incluindo a cidade do Rio de Janeiro, engolidas pela elevação do nível do mar.
O alerta surge de oito pesquisas sobre os efeitos da mudança climática no País, apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente. Os estudos analisaram o perfil da evolução do clima no Brasil, e traçaram possíveis cenários para o clima entre 2010 a 2100.
No Brasil, o aumento da temperatura média no ar pode chegar até 4º C em 2100, em relação à temperatura média aferida de 1961 a 1990, de 25º C. Na Amazônia, o aquecimento pode chegar, no cenário mais pessimista, a 8 ºC.
Já a temperatura média do ar no País, em 2100, pode chegar a 28,9º C no cenário de altas emissões de gases estufa (pessimista) e até 26,3 ºC no cenário de baixas emissões (otimista). No Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,75 ºC no século 20, considerando a média anual de 25 ºC. O ano mais quente no País foi o de 1998 (aumento de até 0,95 ºC em relação à média).
A elevação na intensidade das chuvas no Sul do Brasil foi consistente ao longo do século, inicialmente mais acentuado no inverno e, depois, também no verão. No Nordeste e na Amazônia, não houve aumento ou redução de chuvas.
Desertos e doenças – Algumas simulações mostram uma tendência de extensão da seca por praticamente todo o ano no Nordeste, transformando o semi-árido em um deserto, até o final deste século.
A tendência de aumento do nível do mar, na costa brasileira, foi avaliada em cerca de 40 centímetros por século, ou quatro milímetros por ano. Cidades litorâneas e 25% da população brasileira, cerca de 42 milhões de pessoas, podem ser afetadas. A elevação do nível do mar pode chegar a meio metro ao longo do século 21.
A mudança climática pode causar, ainda, aumento do risco de doenças que se expandirão com maior facilidade num planeta mais quente, em parte porque insetos transmissores, como no caso da malária ou da dengue, teriam mais facilidade para se reproduzir. Aumentaria ainda o risco de contrair, por meio da água, doenças como salmonelose e cólera.
Doenças respiratórias também poderiam ser mais comuns, como conseqüência de um possível aumento na incidência de incêndios na floresta e na vegetação da Amazônia e Cerrado, devido à redução de chuva. Além disso, teme-se que pessoas morram como conseqüência das ondas de calor, especialmente crianças e idosos. A queda da produtividade agrária também pode agravar a desnutrição.
Em todas as grandes cidades, o aquecimento também deve exacerbar o problema das ilhas de calor, no qual prédios e asfalto retêm muito mais radiação térmica que áreas não-urbanas.
Clima violento – No Sudeste, a segunda metade do século 20 já registrou um aumento na intensidade e na violência das chuvas. A tendência é de que haja mais noites quentes na região, que foram de 5% na década de 50 e chegaram a quase 35% no início deste século.
O levantamento lembra ainda o furacão Catarina, registrado em março de 2004, e considerado, possivelmente, o primeiro furacão do Atlântico Sul. Não houve nada comparável nos últimos 50 anos e não há registros, na história brasileira, de fenômeno tão intenso.
No Brasil, as áreas mais suscetíveis à erosão estão na região Nordeste, pela falta de rios capazes de abastecer o mar com sedimentos. Em Pernambuco, um dos Estados mais afetados, cerca de seis em cada dez praias dos 187 km de costa cedem terreno para o mar.
Uma elevação de 50 cm no nível do Atlântico poderia consumir 100 metros de praia no Norte e no Nordeste. Em Recife, por exemplo, a linha costeira retrocedeu 80 metros de 1915 a 1950, e mais de 25 metros de 1985 e 1995. (Estadão Online)