A decisão dos governos do Brasil e do Uruguai de criar uma comissão mista para as questões de energia – e, dentro dela, discutir os biocombustíveis – é o primeiro passo concreto do governo brasileiro na direção desejada pelo governo dos Estados Unidos: a de lançar bases para se implantar na América do Sul e no Caribe um sistema multinacional de produção de biocombustíveis, uma espécie de ´Opep do etanol´. O assunto será o mais importante da visita de George W. Bush ao Brasil, no próximo dia 9.
Empenhado em reduzir seu consumo de petróleo e pressionado para adotar as regras de controle ambiental do Protocolo de Kioto, o governo Bush anunciou há um mês essa nova proposta, na qual o Brasil tem um papel decisivo. Os dois países respondem, juntos, por 70% da produção mundial de etanol.
Mas, enquanto os americanos o produzem a partir do milho, os brasileiros o fazem com a cana-de-açúcar, que pode ser cultivada em países próximos, de clima tropical. De quebra, os Estados Unidos esperam, a médio prazo, reduzir sua dependência do petróleo da Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, não pára de hostilizar Bush.
O projeto de globalização do etanol foi o principal assunto da visita feita ao Brasil, no início do mês, pelo subsecretário de Estado americano Nicholas Burns.
Entusiasmado com o avanço tecnológico do Brasil na produção de álcool combustível, Burns fez vários contatos com empresários em São Paulo e Brasília, e foi embora deixando uma previsão: “Os biocombustíveis serão no futuro o principal elo entre brasileiros e americanos.” Com Burns estava o subsecretário para a América Latina, Thomas Shannon, um dos incentivadores da idéia.
Nos EUA já funciona uma Comissão Interamericana de Etanol, cujo diretor, Brian Dean, pretende triplicar a produção americana até 2017. Dean vem comandando uma pesquisa sobre a produção de etanol em países como El Salvador, Guatemala, Honduras e República Dominicana.
Embora não esteja ainda claro que tipo de acordo o presidente Bush vai propor a Lula, sabe-se que ele tende para parcerias entre setor público e privado. E uma das reivindicações brasileiras será a abertura do mercado americano ao etanol brasileiro. (Elder Ogliari/ Estadão Online)