Desastres ambientais apontados como decorrência do aquecimento global, escassez de recursos naturais essenciais – como a água – e a alta do petróleo conseguiram alçar a preocupação com a preservação do ambiente ao posto de prioridade para a iniciativa privada, mais de uma década depois da Eco-92, marco da conscientização sobre o problema.
Do evento, realizado no Rio, surgiram iniciativas como o Protocolo de Kyoto (compromisso de redução das emissões de gases pelos países signatários) e combativas organizações não-governamentais.
O que diferencia a nova onda verde é a participação de um “novo” protagonista: a iniciativa privada. Investimentos em tecnologias limpas, economia de recursos, reciclagem e substituição de matérias-primas entraram na pauta de empresas como a AmBev, que, de 2001 a 2005, investiu R$ 260 milhões em gestão ambiental (manutenção e controle das estações de tratamento de água e efluentes e dos processos de reaproveitamento de resíduos).
Além disso, hoje a preocupação com a natureza é abordada no bojo da sustentabilidade, conceito que envolve também o impacto social da atividade econômica e a capacidade de sobrevivência da companhia. Ou seja, a otimização do uso dos recursos na produção pode representar ganhos econômicos para a companhia.
Por exemplo, para reduzir o uso de combustíveis não-renováveis, a AmBev substituiu parcialmente o uso de óleo – 30 mil toneladas por ano – e de gás natural -2 milhões de metros cúbicos- por biomassa e biogás, o que evita a emissão de quase 100 mil toneladas de gás carbônico por ano e representa economia de R$ 5,7 milhões. Já o reaproveitamento de 96,7% dos resíduos sólidos economiza R$ 51 milhões.
Os tópicos que mais chamam a atenção dos empresários são preservação da biodiversidade, uso racional de energia e água e mudanças climáticas, diz o professor Cláudio Boechat, do Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Fundação Dom Cabral, que pesquisou 33 empresas.
Indicativos de interesse – Os indicativos do interesse do setor privado, aponta Boechat, são a consolidação de índices de sustentabilidade nas Bolsas de Valores -como o Dow Jones Sustentability Index, na Bolsa de Nova York, e o Índice de Sustentabilidade Empresarial, na Bovespa- e a participação de empresas na criação de uma norma ISO para empresas guiadas pela sustentabilidade.
No Brasil, o debate ganhou atenção em boa parte por conta da polêmica sobre a obtenção de licenças ambientais.
Alguns setores, em especial o de infra-estrutura, vêem “entraves ao crescimento econômico” nos processos de liberação de grandes obras.
Hoje, há duas obras de usinas hidrelétricas paralisadas por questões ambientais, conforme a Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica.
“A legislação e o processo de licenciamento têm problemas, como foco excessivo em detalhes e análise restrita a fatores de impacto direto, mas são muito bons”, avalia Rubens Mazon, professor de sustentabilidade da FGV – Fundação Getulio Vargas.
Mais investimentos – No Brasil, os dados mais atuais são os do IBGE, divulgados no mês passado. Conforme o estudo, o investimento em controle ambiental das indústrias passou de R$ 2,2 bilhões em 1997 para R$ 4,1 bilhões em 2002 -alta de 86,4%.
O número de empresas que aportam recursos nesse tipo de projeto subiu de 3.823 para 6.691, com incremento de 75%, num período em que o crescimento do total de companhias privadas foi de 26,4%.
Em 1997, o setor de alimentos concentrava os investimentos. Em 2002, o posto ficou com empresas industriais ligadas às produções de coque, álcool e combustíveis nucleares e ao refino do petróleo.
A lei é a principal razão desse empenho, diz Mazon. “Há exceções, mas a maioria das empresas ainda vê questões ambientais como custo -e não como investimento em sustentabilidade. Para elas, isso é problema do governo.”
Outro responsável pela popularização do assunto foi o ex-vice-presidente americano Al Gore, que, no ano passado, emprestou seu prestígio à problemática ao lançar o livro “Uma Verdade Inconveniente” e o documentário homônimo (premiado com o Oscar neste ano), que apontam as conseqüências funestas do aquecimento global.
Neste ano, o interesse pelo tema alcançou outros líderes mundiais. A preocupação ambiental surgiu como segundo assunto mais importante do Fórum Econômico Mundial, realizado no mês passado em Davos, atrás apenas do crescimento econômico. Neste mês, a ONU – Organização das Nações Unidas convocou uma cúpula de emergência para tratar do aquecimento global.
E, há poucos dias, os membros da União Européia concordaram em reduzir em 20% as emissões de dióxido de carbono até 2020. (Juliana Garçon/ Folha Online)