Os ministros do Meio Ambiente do G8 (grupo dos sete países mais industrializados e a Rússia) e dos cinco principais países emergentes – Brasil, México, China, Índia e África do Sul – querem conferir à discussão sobre a biodiversidade a mesma relevância que recebe o debate sobre a mudança climática.
Para isto, os ministros aprovaram nesta sexta-feira, 16, uma iniciativa sobre a biodiversidade na reunião realizada na cidade de Potsdam (Alemanha), que continuará no sábado.
O objetivo do projeto, segundo o anfitrião alemão Sigmar Gabriel, é retirar o debate dos círculos dos especialistas e levá-lo à opinião pública e às negociações entre chefes de governo.
Um aspecto importante da iniciativa é a realização de um estudo sobre as conseqüências econômicas da destruição da biodiversidade, semelhante ao famoso “Relatório Stern” sobre a mudança climática.
“Diariamente, desaparecem 150 espécies. Estamos apagando o banco de dados da natureza a uma velocidade dramática”, disse Gabriel, resumindo as conclusões do primeiro dia de debates em Potsdam.
Para demonstrar que esse processo possui repercussões econômicas, o alemão frisou que, atualmente, 46% das espécies marinhas correm perigo, e que, caso não seja feito algo para mudar esta situação, em 2050 não haverá pesca comercial, não porque será proibida, enfatizou Gabriel, mas porque não haverá o que retirar dos mares.
“Isso significaria a perda do sustento de milhões de pessoas”, disse. Para Gabriel, ressaltar a dimensão econômica da destruição da biodiversidade é fundamental, pois só assim poderá ser intensificada a vontade de investir em medidas que façam frente ao problema.
“Temos que deixar claro que a biodiversidade não é um tema que interesse apenas aos ornitólogos e aos amantes da natureza”, afirmou Gabriel.
Além de encomendar o estudo, que deverá ser realizado por uma equipe na qual Gabriel deseja que esteja presente pelo menos um cientista dos países em desenvolvimento, a “Iniciativa de Potsdam para a Biodiversidade 2010” ressalta a importância de frisar a interdependência entre proteção do clima e das espécies.
Gabriel também destacou que os países em desenvolvimento e os países emergentes precisam de compensações dos países industrializados para poderem continuar o que já vêm fazendo em nível nacional para proteger a biodiversidade.
Entre outras coisas, a iniciativa propõe ainda a intensificação da luta contra o tráfico ilegal de plantas e animais, assim como a criação de uma série de mecanismos para incentivar o uso sustentável dos recursos naturais.
Biodiversidade e Greenpeace – Esta sexta-feira teve como foco principal a biodiversidade, mas o debate sobre a mudança climática, que será o ponto forte de sábado (17), já alcançou a reunião devido às expectativas que o assunto gera.
O Greenpeace, por exemplo, organizou uma de suas ações típicas protestando em um navio até alcançar o local do encontro, o castelo de Cecilienhof, situado entre dois lagos.
No lugar, ativistas posicionaram um cartaz no qual convocavam o G8 a acabar com os discursos e a começar a trabalhar com fatos concretos pela proteção do clima.
O diretor do programa do Meio Ambiente da ONU, Achim Steiner, respondeu ao protesto do Greenpeace dizendo que “o que for dito hoje é a base do que será feito amanhã”.
Steiner afirmou também que entendia a impaciência de alguns em relação à lentidão que existe na tomada de decisões, mas disse que, nos últimos dois anos, houve uma mudança no debate sobre temas ecológicos que permite encarar com otimismo o futuro.
“Se for observada a evolução do debate em muitos países, pode-se ver que foram dados alguns passos, e acredito que estes foram na direção certa”, disse Steiner.
O representante da ONU elogiou os resultados obtidos pela cúpula européia em Bruxelas em relação à proteção do clima, assim como os esforços feitos pelo Brasil, com a redução em 50% do desmatamento, e pela China, com um projeto enorme de reflorestamento. (Efe/ Estadão Online)