Mudança climática é uma questão de segurança mundial, diz conselho da ONU

“Efeitos adversos já são sentidos em muitas áreas, incluindo a agricultura e a segurança alimentar, áreas oceânicas e costeiras, biodiversidade e ecossistemas, recursos hídricos, saúde humana, assentamento humano, energia, transporte, indústria e eventos climáticos extremos”, disse o secretário general Ban Kin-moon em reunião aberta na terça-feira (17) com membros do conselho e instituições internacionais.

Neste mês, o Reino Unido ocupa a cadeira do Conselho e, por isso, decidiu organizar a reunião para discutir questões de segurança que podem ser desencadeadas ou exacerbadas pelas mudanças climáticas.

“O conselho de segurança é o fórum de discussão de assuntos que ameacem a paz e segurança da comunidade internacional. O que faz uma guerra começar? Luta por água. Mudança no padrão de chuvas. Brigas pela produção de alimentos, uso da terra. Estes são alguns dos grandes potenciais de ameaça para nossa economia também, mas principalmente para a paz e segurança”, afirmou a secretária de relações internacionais do Reino Unido, Margaret Beckett.

Ban comparou o custo dos conflitos e suas conseqüência com o de preservação ambiental, argumentando que são muito menores além de trazerem benefícios para a qualidade de vida.

O ministro de relações internacionais da Itália, Vittorio Craxi, disse que os membros deveriam apoiar os esforços de Ban para criar uma nova Organização de Meio Ambiente das Nações Unidas, em um esforço para coordenar as ações para combater as mudanças climáticas.

Atualmente, a ONU realiza cerca de 400 reuniões que duram um dia inteiro por ano sob temas relacionados à biodiversidade, às mudanças climáticas e à desertificação com cerca de 30 agências e programas que envolvem projetos ambientais.

Diversos outros países apoiaram as discussões do Conselho em contraste com os representantes do Grupo dos 77 (G-77), uma coligação de países em desenvolvimento, e do movimento dos não-alinhados. Ambos escreveram cartas dizendo que o assunto não seria de responsabilidade de um grupo de 15 membros e sim da Assembléia Geral, formada por 192 nações ou os Conselhos Social e Econômico.

O representante paquistanês Farukh Amil disse, em nome do G-77, que espera que a decisão do conselho de manter o debate não crie precedentes ou interfira na autoridade de organizações relevantes, instrumentos e processos que já estejam trabalhando no assunto.

Amil foi seguido pelo embaixador da China, Liu Zhenmin, que foi enfático ao rejeitar a sessão. “Os países em desenvolvimento acreditam que o Conselho de Segurança não tem a competência profissional para lidar com as mudanças climáticas e nem o direito de tomar decisões por participações extensivas que resultariam em uma proposta largamente aceita”.

Quem já vê as conseqüências do clima bater a sua porta foi logo destacando a importância do conselho debater o assunto. Falando em nome de 11 países do Fórum das Ilhas do Pacífico, o embaixador da Nova Guinea, Robert Aisi, alertou para o fato de que o aumento dos oceanos inundaria completamente estas nações insulares, colocando em risco a sobrevivência da população humana. “O perigo para as pessoas das ilhas pequenas não é menor que o para as nações ameaçadas por armas e bombas”, afirmou.

Ele lembrou que eles serão vítimas de um fenômeno para o qual contribuíram muito pouco, mas que agora não lhes resta muito o que fazer. “Fenômenos como ciclones batem no coração da nossa existência”, alertou.

No final do dia, um total de 55 países emitiu suas opiniões sobre o tema, sem que, no entanto, a reunião resultasse em algum documento. (Paula Scheidt/ CarbonoBrasil)