Embrapa usa bioinseticida para controlar praga que ataca produção de mandioca no Acre

A mandioca é um dos alimentos mais baratos e está entre os mais consumidos pela população brasileira de baixa renda. Pela sua importância econômica, social e ambiental, é também uma cultura muito desenvolvida no país: o Brasil é o segundo produtor mundial de mandioca, ficando atrás apenas da Nigéria.

Na Região Norte, o estado do Acre é um dos principais produtores, concentrando a maior área cultivada no Vale do Juruá , com 9 mil hectares plantados e produtividade em torno de 20 toneladas por hectare. O vale é conhecido pela excelência da sua farinha de mandioca, cuja produção é de 900 toneladas por ano. A economia do Vale do Juruá se baseia praticamente na produção da farinha.

Entretanto, uma praga preocupa os produtores da região: o madarová, lagarta de coloração variável, que ataca as folhas da mandioca, causando grandes perdas na produção e prejuízos econômicos ao agricultor. Segundo o pesquisador Murilo Fazolin, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Acre, o maior prejuízo é nas culturas novas, com até cinco meses de plantio.

“Se esse ataque ocorrer num roçado novo, quando começa a folhagem, a raiz da planta, que é o produto final, fica seriamente comprometida, já que a reserva, que seria para o crescimento e qualidade da mandioca, precisa ser utilizada numa nova folhagem”, explicou Fazolin.

O pesquisador lembrou que, nos anos 90, a utilização indevida de inseticidas convencionais provocou grave desequilíbrio biológico na região do Juruá, causando alta mortalidade dos predadores naturais do mandarová. Para combater a praga, a Embrapa-Acre faz, há vários anos, um trabalho de monitoramento populacional e manejo integrado da lagarta na região do Juruá. Para tentar reduzir as perdas na cultura da mandioca, a Embrapa-Acre adaptou para o Vale do Juruá, de forma emergencial, uma técnica que já é adotada na região de Sete Lagoas , em Minas Gerais, que é um bioinseticida à base de um extrato desenvolvido a partir da lagarta contaminada com o Baculovirus erinnys, que é um vírus de ocorrência natural em lavouras de mandioca das regiões Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.

Fazolin, que coordena o monitoramento, explicou que trata-se de um inseticida específico dessa lagarta (Erinnys ello) e que todos os outros insetos e predadores que forem se alimentar dela não sofrerão nenhuma ação do vírus.

“Isso, em relação ao equilíbrio biológico e ambiental, é fantástico. Por outro lado não há nenhum registro de alteração da saúde humana ou de animais domésticos. E, finalmente, o custo desse produto é praticamente zero, porque ele se baseia na coleta dessas lagartas para a produção, do extrato, e só deve ser computada a despesa da mão-de-obra do operador do pulverizador. E uma grande vantagem também é que o extrato pode ser armazenado em congelamento por um prazo de cinco anos.”

Fazolin ressaltou que a Embrapa tem se empenhado para que o próprio produtor fabrique seu bioinseticida. ”A partir do momento em que introduziu esse vírus nas região do Juruá, a a Embrapa, em parceria com a Secretaria Executiva de Assistência Técnica e Extensão Agroflorestal (Seater), o Instituto de defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e a Secretaria Executiva de Agricultura e Produção do estado, está fazendo campanhas de esclarecimento sobre a melhor maneira de retirar o vírus da lagarta, para que o próprio produtor possa fazer o extrato e armazenar, para aplicação imediata, em caso de surto”, informou o pesquisador.

Segundo ele, depois de adaptado para o clima da região do Juruá, o extrato foi testado em nove hectares cultivados com mandioca entre os meses de março e abril. O bioinseticida mostrou-se altamente eficaz, especialmente quando aplicado na fase inicial do ataque da praga, alcançando índice de mortalidade próximo de 95% das lagartas.
(Fonte: Cleide Lopes Vieira / A Voz do Brasil)