O resultado surpreendeu os pesquisadores. Eles esperavam que os surtos anuais de gripe no país começassem nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio, onde um número maior de pessoas convive em menor espaço e onde há maior contato com o exterior, via aeroportos. De lá, o vírus se espalharia para o norte, menos povoado e mais isolado. O padrão seguindo população é o observado em países temperados.
A pesquisa concluiu, porém, que o auge das epidemias anuais de gripe no Brasil começa primeiro nas regiões Norte e Nordeste, entre os meses de abril e maio. Só algum tempo depois, entre os meses de junho e julho, as regiões Sudeste e Sul sofrem picos no número de casos de gripe, o que sugere que o vírus viaja do norte para o sul.
A conclusão veio após a equipe de brasileiros e americanos analisar números mensais de mortes suspeitas de terem sido causadas por gripe registradas pelo Ministério da Saúde no Brasil entre 1979 e 2001.
“Não é fácil diagnosticar a gripe, que pode ser confundida com outras infecções”, diz Wladimir Alonso, do Centro Internacional Fogarty (EUA), que concebeu a análise. Para verificar se o padrão de picos nas mortes era provocado mesmo pelo vírus influenza, ele consultou dados mais recentes, incluindo os do sistema de vigilância de gripe colhidos entre 2000 e 2005.
Avaliando a dinâmica dos casos, os pesquisadores identificaram oscilações regulares ao longo do tempo – altas no inverno e baixas no verão. A diferença entre os picos é mais acentuada ao sul, onde, também, os picos tendem a acontecer mais tarde no ano.
Os autores sugerem uma mudança de cronograma nas campanhas nacionais de vacinação contra gripe. A cobertura de vacinação no Brasil, que alcança 70% da população idosa, poderia melhorar se ocorresse mais cedo nas regiões Norte e Nordeste. Alonso acredita que os surtos iniciais são causados pelas estações chuvosas.
No plano global, o vírus aparece no inverno na zona temperada do hemisfério Norte e atravessa os trópicos para aparecer de novo na zona temperada ao Sul. Elucidar a dinâmica da epidemia no Brasil pode ser “a chave para entender aspectos importantes da circulação global da gripe”, diz Alonso. (Igor Zolnerkevic/ Folha Online)