A dúvida, no entanto, gira em torno das garantias que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social poderá exigir para essas exportações.
Fruto de visitas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao continente africano este mês, e instrumento da tentativa de tornar o álcool uma commodity internacional, aumentando o número de países produtores, os financiamentos do banco para esse segmento seguirão as regras do BNDES Exim, normalmente garantidos por bancos de primeira linha, segundo a assessoria do BNDES.
Com carteira de 2,5 bilhões de dólares em obras de infra-estrutura na América do Sul, o BNDES emprestou até hoje para o continente africano apenas 142 milhões de dólares, referente a obras de construção civil em Angola. “O que a gente tem visto é muita conversa e não tanta ação (dos países africanos)”, afirmou José Francisco Davos, vice-presidente de negócios da Dedini, líder mundial do segmento.
“Mas é natural, esses processos no mercado externo, alguns países são mais complicados no que tange a financiamento, em infra-estrutura, como a África”, explicou.
Principalmente nos últimos dois anos, Davos viu a procura por usinas de álcool da companhia crescer. No mercado interno a procura se materializou em contratos, mas em outros países a venda se limitou a equipamentos e peças de manutenção, contribuindo com apenas 10 por cento do faturamento da empresa, ou cerca de 45 milhões de dólares este ano. Há cinco anos, as exportações não chegavam a 8 milhões de dólares.
Apontando a falta de garantias para financiamento como um dos principais entraves para a concretização dos negócios, Davos afirmou que com a linha do BNDES os acordos serão facilitados, mas dependem das condições do banco.
O executivo disse que mesmo que os obstáculos sejam superados, a indústria brasileira não verá acontecer na África a explosão de usinas que se vê hoje no Brasil.
“O interesse é generalizado, já recebi visitas da Nigéria, Serra Leoa, Costa do Marfim, Moçambique, Angola, África do Sul, mas provavelmente serão um ou dois projetos em cada país, não é como o Brasil que tem 40 a 50 plantas em um ano”, avaliou.
Um pouco menos otimista, o gerente regional da TGM Turbinas, Carlos Eduardo Machado Paletta, avaliou que a decisão do governo brasileiro “é um passo importante”, mas desconfia do potencial dos países africanos em construírem a infra-estrutura necessária para desenvolver uma indústria de álcool como existe no Brasil.
“É um incentivo importante…mas não sei se só a linha é suficiente, porque no caso da África tem que haver esforços políticos, é um país diferente e precisa de incentivos fiscais para viabilizar um programa de etanol”, avaliou.
Crença no álcool – Tanto Davos como Paletta concordam no entanto que desenvolver uma política do etanol em outros países é fundamental para o sucesso do programa de aumento de exportações de álcool do governo.
“É preciso ter grandes produtores para formar o mercado mundial de álcool… só aí o mundo passa a acreditar no álcool como um produto energético importante, porque ninguém quer ficar na mão de um fornecedor só”, explicou Paletta.
Para Davos, da Dedini, a discussão do álcool como commodity é tão importante que deveria vir antes dos planos de financiar outros mercados.
“As visitas do Lula, assim como as nossas (à África), tem como conceito que o Brasil não pode fugir de transformar o etanol numa commodity mundial. Antes de se imaginar em vender tecnologia, equipamentos, o Brasil tem que trabalhar para que o etanol vire uma commodity mundial, como o petróleo”, afirmou.
Com ou sem África, a Dedini planeja dobrar suas exportações. Cerca de 80 milhões de reais estão sendo investidos para expandir as seis fábricas da empresa no país.
Para o gerente da área de álcool da Smar, fornecedora de equipamentos para a indústria, a linha do BNDES será “um instrumento poderoso” mas só deve financiar as grandes fabricantes. Jayme Tamaki explicou que as vendas externas da companhia são sustentadas pelas subsidiárias da Smar no exterior, num total de 8, sendo duas nos EUA, mais México, Argentina, Alemanha, China, Holanda, Cingapura e cerca de 50 representantes em vários países. Essas vendas correspondem a um terço do faturamento da companhia.
A empresa, maior fabricante de instrumentos para controle de processos no Brasil, vem percebendo aumento de demanda desde 2003 e não espera tão cedo um desaquecimento.
“O mercado estará aquecido, com evidente potencial de compra até meados de 2012, chegando a 2015”, afirmou Tamaki. (Estadão Online)