O secretário-geral da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, Yvo de Boer, não prevê grandes declarações durante os cinco dias de sessões, mas ecologistas e Governos de países pobres e emergentes esperam conseguir alguns benefícios.
De Boer disse aos jornalistas que a reunião, a primeira das quatro que acontecerão este ano, “tem que estar de acordo com um programa de trabalho e com os temas que serão discutidos nas negociações do novo pacto.”
Nenhuma decisão crucial sairá das conversas de Bangcoc, que se destinam essencialmente a estabelecer um cronograma para outras reuniões, culminando com a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague, Dinamarca, no fim de 2009.
“Nós vemos isto como um processo de orientação de progresso”, disse Harland Watson, chefe dos negociadores climáticos norte-americanos.
“A situação de nosso planeta requer que os senhores sejam ambiciosos em seus objetivos, e que trabalhem duro para se chegar a um acordo”, disse, em uma mensagem de vídeo exibida na reunião, o secretário geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon. “O mundo espera uma solução que funcione a longo prazo, e que seja economicamente viável”, acrescentou Ban.
Os debates e negociações em Bangcoc deverão respeitar o que foi estabelecido na XII Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, realizada em dezembro passado na ilha de Bali, na Indonésia.
Especialistas em clima das Nações Unidas querem que o novo pacto imponha cortes a todos os países, embora haja grande divergência sobre como partilhar o fardo entre nações ricas, lideradas pelos Estados Unidos, e nações pobres, lideradas pela China e pela Índia.
O “Mapa de Caminho de Bali” destaca a ajuda, através do Fundo de Adaptação estabelecido pelo Protocolo de Kyoto, aos países emergentes para atenuar os desastres naturais e os efeitos negativos do aquecimento do planeta. As nações industrializadas também se comprometem a ajudar na conservação e reflorestamento, e a transferir tecnologia.
O acordo de Bali foi, além disso, um marco na luta dos últimos anos contra o aquecimento global, pois reincorporou os Estados Unidos nessa briga e estabeleceu como referência científica o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Com isso, os EUA, que se recusavam até então a falar em números concretos e em cortes nas emissões, admitiram implicitamente a importância, embora não a obrigatoriedade, de que as economias industrializadas reduzam, até 2020, entre 25% e 40% de suas emissões de gases poluentes em relação aos níveis de 1990.
A União Européia (UE) defende que as nações ricas reduzam suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 30% até 2020, e espera que esta reunião de Bangcoc ofereça um “plano de trabalho detalhado e substancial que contenha os assuntos centrais do futuro acordo.”
O especialista Anong Snidvong, diretor da “Start”, agência tailandesa que investiga a mudança climática, afirmou que a reunião também permitirá falar de outras questões relacionadas, como o cumprimento dos objetivos do Protocolo de Kyoto até 2012.
“Estou convencido de que poderemos achar um novo mecanismo que ajude os países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto, que são obrigados a reduzir suas emissões em 5% até 2012 em relação aos níveis de 1990”, disse Snidvong, que afirmou ainda que os mecanismos atuais são “impraticáveis”.
Os debates na Tailândia, fundamentalmente técnicos, continuarão em Bonn, na Alemanha, em junho; em agosto, em local ainda não definido, e em dezembro, na cidade polonesa de Poznan.
Grupos ambientalistas estão olhando de perto a reunião para sinais de comprometimento com a sustentabilidade dos países ricos e pobres. “É o primeiro teste para ver se a boa vontade e as boa intenções, presentes em Bali, continuarão presentes quando ele começarem as negociações mais difíceis”, disse Angela Anderson, do grupo de ambientalistas de Washington Pew.
Conversas difíceis – Embora as negociações devam ser difíceis, as séries de relatórios das Nações Unidas sobre a mudança climática no ano passado ressaltam a necessidade de barrar o aquecimento global.
Um relatório em particular disse estar mais de 90% certo que ações humanas – principalmente a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo – eram culpadas pelas mudanças climáticas do sistema.
Uma importanete questão a ser abordada é a relutância dos grandes países em desenvolvimento, como a Índia e a China, em adotar quaisquer medidas que possam atrasar sua rápida industrialização. (Estadão Online)