Dois dias após o assassinato de um agricultor em Tucuruí, no Pará, uma nova denúncia: a Ordem dos Advogados do Brasil e a Comissão Pastoral da Terra revelam detalhes sobre a extração ilegal de madeira e a ação de pistoleiros contra trabalhadores rurais.
Os parentes do agricultor que foi morto agora temem que o assassino volte a agir. “Toda família está com medo”, disse Ericélia Barbosa Silva, irmã de Emival Barbosa Machado.
Emival Barbosa Machado, de 50 anos, foi morto a tiros na quinta-feira (24) em Tucuruí quando saía de casa. Ele denunciou que toras retiradas ilegalmente da floresta eram comercializadas no município. Disse que os moradores de um assentamento eram obrigados a entregar as árvores para os madeireiros; que o Ibama era conivente; e que passou a ser ameaçado de morte depois de fazer as denúncias.
“Porque o vazamento está vindo do próprio Ibama de Tucuruí, sob o apoio deles dando sobre a tiração de madeira ilegal, porque o Ibama é conivente à situação”, declarou o agricultor Emival Barbosa Machado, em 30 de março deste ano.
Anibal Picanço, superintendente do Ibama no Pará, nega as acusações, mas reconhece que em Tucuruí há exploração ilegal de madeira.
“A extração clandestina de madeira é muito dinâmica, e isso aí existe, sem sombra de dúvida”, afirmou Anibal Picanço.
A Ordem dos Adogados do Brasil confirmou neste sábado (26) a denúncia do agricultor. Disse que madeireiros de Tucuruí retiram toras de áreas destinadas pelo Incra à reforma agrária e que os assentados são ameaçados.
“Eles sofrem um assédio violento por parte dos madeireiros que querem tirar a madeira ilegal. Aquele trabalhador que denuncia ele sofre ameaças ou é morto, assassinado”, disse Meyre Cohen, membro da comissão de direitos humanos da Ordem dos Adogados do Brasil no Pará.
Foi o que aconteceu com Emival. A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública informou que, por enquanto, a polícia do Pará não vai falar sobre o caso. Disse apenas que o agricultor foi morto por dois homens que estavam em uma moto e que até agora não há suspeitos nem presos.
A polícia de Tucuruí informou que, no dia 1º de fevereiro deste ano, o agricultor foi à delegacia e disse que estava sendo ameaçado de morte por um homem que havia comprado madeira dele. Segundo a polícia, o caso foi enviado à Justiça.
A Comissão Pastoral da Terra diz que vai acompanhar as investigações. Segundo a pastoral, os trabalhadores rurais são vítimas de pistoleiros que agem livremente no interior do Pará.
“A pistolagem acabou virando uma profissão na região e é estimulada pela impunidade”, afirmou José Batista, advogado da Comissão Pastoral da Terra.
De acordo com a pastoral, em 36 anos, mais de 800 trabalhadores foram assassinados no campo no Pará e apenas um mandante está na cadeia.
As entidades que representam as empresas madeireiras foram procuradas pela nossa reportagem, mas não quiseram comentar as denúncias.
(Fonte: Jornal Nacional / Rede Globo)
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