Quem chega à Raposa pela RR-319, estrada conhecida como Transarrozeira, encontra, alguns quilômetros adiante, um bloqueio de estacas de madeira e arame.
A barreira foi montada por índios orientados pelo Conselho Indígena de Roraima para impedir que produtores de arroz levem às suas fazendas material usado nas lavouras, como fertilizantes e sementes.
Eles avisam que a passagem só será permitida ao arrozeiro que quiser apenas retirar pertences. “Só aceitamos a saída. Entrada com veneno não aceitamos mais, pois está poluindo nossa água dos igarapés”, disse o agricultor indígena Valquir Paixão, de 54 anos.
Quando alguém se aproxima da barreira, rapidamente índios da Comunidade Jawari saem de suas malocas e iniciam a identificação dos estranhos.
Pedem documento de identidade para comparar com crachá funcional e, só depois de desfeita a desconfiança, aceitam dar entrevista, precedida de uma apresentação dos repórteres aos moradores, reunidos em um barracão.
O tuxaua Francisco Constantino Júnior, de 42 anos, é quem responde primeiro, observado por praticamente todos do local: “O bloqueio foi uma decisão das comunidades da Raposa, e não vamos abrir mão até o julgamento [das ações que contestam a demarcação em área contínua]no Supremo [Supremo Tribunal Federal]. Queremos que os arrozeiros saiam”.
A equipe da Agência Brasil estava presente quando os índios impediram a passagem do arrozeiro Ivo Barili, que, acompanhado da esposa e de uma repórter de Boa Vista, pretendia ir de caminhonete para sua fazenda.
“Eles [arrozeiros] não conversam com a gente [sobre] o que querem fazer, e nós só liberamos a entrada para retirar bens”, justificou Perciliano Januário, tuxaua [chefe] de comunidade vizinha à Jawari.
O bloqueio da estrada começou segunda-feira (5). A Polícia Federal foi ao local no dia seguinte e, segundo o delegado Fernando Romero, fez um acordo com a comunidade para que liberasse a estrada.
A trégua durou apenas 24 horas. “Eles abriram e depois fecharam, apesar do nosso pedido para que retirassem [as estacas e o arame]. Os ânimos estão exaltados. Já solicitamos uma participação mais ativa da Funai [Fundação Nacional do Índio], porque isso extrapola nossas atribuições”, disse Romero.
Os indígenas alegam, no entanto, que quem não cumpriu o acordado foi a PF. “O acordo era para que a polícia passasse a controlar a entrada dos arrozeiros só para retirarem a colheita, mas eles [agentes da PF] não apareceram”, justifcou o professor indígena Jaime Araújo.
O delegado Romero afirmou que o desbloqueio da estrada à força só poderia ser feito com amparo em autorização judicial. O arrozeiro Ivo Barili já entrou com pedido na Justiça Federal e aguarda uma decisão a qualquer momento.
(Fonte: Marco Antônio Soalheiro / Agência Brasil)