A pesquisa foi divulgada na quinta-feira (15) na revista científica “Nature”. O trabalho reúne um conjunto de aproximadamente 30 mil dados sobre variações biológicas e físicas que, depois, foram combinados a informações de um banco de dados de mudança de temperatura. Os dados coletados vão de 1970 até 2004.
Todos os continentes têm casos apontados no estudo. Europa e América do Norte, porém, são os que possuem mais destaques no trabalho, já que existe um maior número de pesquisas sobre ecologia nesses territórios.
Sobre a América do Norte, sabe-se que 89 espécies de plantas têm florescido mais cedo em Washington e que ursos-polares no sul do mar de Beaufort, além de estarem em declínio, têm se tornado canibais. Já na Europa, o estudo indica que tem havido mudanças na floração e no desenvolvimento da folhagem em plantas e também alterações nas fases de crescimento de animais em 19 países.
Método – A pesquisa foi liderada por Cynthia Rosenzweig, do Instituto Goddard de Pesquisa Espacial, da Nasa, e teve a participação de outros dez pesquisadores. Em cerca de 90% dos casos analisados, as tendências são consistentes com os efeitos previsíveis do aquecimento climático, afirmam os cientistas.
Os resultados reforçam as posições do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). O painel concluiu em 2007 que o aquecimento é “inequívoco” e que a contribuição humana para o aumento da temperatura é “muito provável”.
“Essas generalizadas e significantes mudanças têm ocorrido com apenas 0,6ºC de aumento na temperatura. É, então, uma grande causa de preocupação se olharmos para o aumento esperado de 2ºC a 6ºC nos próximos cem anos”, diz Rosenzweig, pesquisadora que integra o IPCC.
Questionado pela Folha se o estudo irá convencer os céticos do clima, o co-autor Piotr Tryjanowski, do Departamento de Ecologia Comportamental da Universidade Adam Mickiewicz (Polônia), ironiza os descrentes. Diz que eles duvidam “às vezes até do movimento da Terra em torno do Sol”.
Anton Imeson – ligado ao 3D-Environmental Change, da Holanda, e também co-autor do trabalho – afirma que as regiões áridas e as com gelo são as mais atingidas em terra. “As partes que mais sofrem efeitos no mundo, em minha opinião, são África e Ásia Central”, diz.
Brasil – A América do Sul quase não aparece no estudo. São citados o derretimento dos campos de gelo na Patagônia, a perda de geleiras no Peru e em Chacaltaya, na Bolívia. O Brasil não é citado. Mas os pesquisadores dão, mesmo assim, um recado para ajudar a evitar problemas com o aquecimento.
“O Brasil precisa se preocupar com a seca”, afirma Imeson. “Parar de cortar a Amazônia é a melhor solução”, opina Tryjanowski. E Rosenzweig sugere que o país incentive a interação dos cientistas com os povos indígenas, a fim de determinar as mudanças ocorridas no sistema mata como resultado das alterações climáticas”. (Fonte: Folha Online)