Destinação do lixo é desafio

O Brasil gera diariamente cerca de 141 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais (Abrelpe). O volume assustador de lixo produzido é ainda mais preocupante quando estima-se que 59,5% desse total são dispostos inadequadamente no ambiente, e apenas 3,8% são reciclados ou compostados. Esses números mostram a necessidade de ampliação de investimentos público-privados e da conscientização da população no que diz respeito à questão do lixo urbano e seus efeitos no meio ambiente.

A capital mineira tem um exemplo de um aterro sanitário de sucesso, cuja vida útil foi encerrada depois de 32 anos. Agora, estuda alternativas para o futuro. O caso de Belo Horizonte e exemplos de aterro consorciado e de concessão dos serviços de limpeza urbana para a iniciativa privada foram algumas experiências apresentadas no 6º Seminário Meio Ambiente e Cidadania, promovido pelo HOJE EM DIA, no último dia 17.

Segundo o diretor operacional da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (SLU), Edmundo Martins, a população de BH gera cerca de 54,52 Kg de resíduo por minuto. A quantidade de resíduo aterrado na cidade é de 4.430 toneladas por dia, o que representa em média 94% do total. São dados bastante positivos, já que o aterro sanitário é uma destinação ambientalmente correta para o lixo.

O diretor da SLU destacou a qualidade do trabalho realizado no aterro da BR-040, que atingiu seu esgotamento em dezembro do ano passado. “Foram 32 anos, passando por várias etapas de desenvolvimento, em que os projetos de monitoramento ambiental mostraram-se muito eficaz com controle da qualidade do ar, das águas subterrâneas e superficiais, geotécnico, da pressão sonora, controle de erosões, gases e líquidos percolados e compostagem”, conta Martins.

Nesse período, foram aterrados 23,4 milhões de toneladas de resíduo. Segundo Edmundo Martins, o aterro está em processo de selamento, que deve ser concluído até o final deste ano, com a inclusão de obras de nivelamento do terreno, manta geotêxtil, camada de argila compactada, camada de terra vegetal e plantio de grama. ‘Também está previsto para 2009 o início da exploração de biogás, por empresa definida por licitação‘, conta o diretor. Ele ainda apresenta duas alternativas para o futuro da destinação do resíduo sólido em Belo Horizonte, como fim desse aterro. “Existe a possibilidade de criar um aterro sanitário consorciado com outros municípios, que pode ser abrigado em Esmeraldas, ou uma parceria público-privada para administração de um aterro”, destaca.

O aterro consorciado é utilizado na cidade de Ipatinga, conforme apresentou o secretário municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente, Eduardo Souza. Ele é administrado por uma empresa terceirizada e compartilhado com outros municípios da região. O secretário destacou ainda alguns projetos, em parceria com a iniciativa privada, de incentivo à formação de cooperativas de trabalhadores e as campanhas de educação ambiental. “Procuramos desenvolver ações com foco na qualidade de vida, tanto do homem como o dos catadores e carroceiros, que são inseridos nesse processo como agentes ecológicos, com parcerias para reduzir o impacto ecológico do lixo”, aponta.

Uma das maiores empresas em concessão de serviços de gerenciamento de resíduos é o Grupo Solvi, que apresentou no seminário as experiências de atuação em duas grandes cidades: São Paulo e Salvador. O engenheiro Eleusis Di Creddo afirma que para que a questão do resíduo sólido seja tratado com mais seriedade, é preciso que haja políticas públicas regulatórias mais eficazes e mais investimentos e recursos para fiscalização dos órgãos de controle ambiental. “Os aterros sanitários são uma solução ambientalmente correta e com melhor custo-benefício, mas é importante observar a qualidade dos projetos, das obras e da operação, uma das vantagens da concessão dos serviços públicos”, aponta.

Em Salvador, o Lixão de Canabrava, em que pessoas viviam sobre o lixo, deu lugar à uma nova estação de transbordo e novo aterro sanitário, depois da concessão dos serviços para empresa do Grupo Solvi. Eleusis Di Creddo destaca que isso gerou a otimização do projeto original, com melhor aproveitamento do terreno e ampliação da vida útil, melhor integração paisagística e controle geotécnico. “Além disso, houve o aumento da vazão de biogás captado, diminuição do chorume e moderna tecnologia para cobertura do aterros”, conta.
A empresa Tetra Pak, maior produtora de embalagens longa vida, desenvolve um projeto ambiental de estímulo à cadeia de reciclagem de suas embalagens, visando reduzir o impacto ambiental. Compostas por camadas de papel, plástico e alumínio, as embalagens são 100% recicláveis, e podem se transformar em caixas de papelão, divisórias, móveis, pequenas peças decorativas e telhas.

O projeto e as possibilidades de reutilização e transformação desse material foram apresentados no Seminário Meio Ambiente e Cidadania pelo gerente de desenvolvimento ambiental, Fernando Neves. Uma das iniciativas recentes da empresa foi a criação do site, em que, utilizando a plataforma Google Maps, a pessoa informa um endereço e o mapa mostra onde estão localizadas as cooperativas de catadores, as empresas comerciais que trabalham com compra de materiais recicláveis e os pontos de entrega voluntária de embalagens mais próximas. (Fonte: Andréa Hespanha/ Jornal Hoje em Dia/MG)