Uma biotecnóloga chilena chamada Nadac Reales, da cidade de Antofagasta, está propondo uma solução natural para eliminar toneladas de resíduos tóxicos produzidos pela mineração de cobre no Chile: bactérias “comedoras de metais”. Em testes realizados com extremófilos, organismos que sobrevivem ou necessitam de condições geoquímicas extremas, a cientista isolou bactérias capazes de “devorar” um prego em três dias.
Em entrevista à agência AFP, a biotecnóloga afirma que a ideia surgiu ainda na universidade, quando realizava testes com microrganismos em uma mineradora de cobre com o objetivo de aprimorar a extração do minério. Reales conta que ficou intrigada com o destino dos resíduos metálicos.
Embora alguns deles possam ser reciclados em altos-fornos de usinas de fundição, as gigantescas tremonhas de caminhões utilizadas na mineração, capazes de receber até 50 toneladas de rocha, são simplesmente descartadas no deserto do Atacama. Essa poluição pode ser devastadora para as bacias hídricas de grande parte do continente sul-americano, pelo acúmulo desenfreado de resíduos minerais, metais pesados e água ácida.
Soluções extremas
A metodologia recém-desenvolvida por Reale, que atualmente dirige sua própria empresa – a Rudanac Biotec – foi baseada no estudo dos extremófilos, especificamente em uma bactéria oxidante de ferro conhecida como Leptospirillum, que a cientista conseguiu isolar com sucesso dos gêiseres Tatio, conhecidos por sua irregularidade e localizados a 4,2 mil metros de altitude.
À AFP, Reales explicou que esse tipo de bactéria “vive em um meio ambiente ácido que é praticamente imune às altas concentrações da maioria dos metais”. Nos testes iniciais, as bactérias demoraram dois meses para dissolver um prego, mas, ao ficarem famintas, foram capazes de se adaptar e, passados dois anos, a velocidade de se alimentar evoluiu, e o prego passou a ser devorado em três dias.
Criando uma mineração “verde”?
De acordo com Reales, os “testes químicos e microbiológicos” realizados mostraram que as bactérias comedoras de metal não são prejudiciais nem aos seres humanos e nem ao meio ambiente. Isso as coloca como uma solução sustentável para diversas cidades chilenas que, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), geraram cerca de 910 mil toneladas de resíduos tóxicos, somente no ano de 2017.
Outra boa notícia para as empresas de mineração é que, quando o processo de desintegração feito pelas bactérias está concluído, o produto resultante é um resíduo líquido avermelhado, conhecido como lixiviante que “pode melhorar a recuperação do cobre em um processo chamado hidrometalurgia”, segundo Reales. Esse processo consegue remover o cobre da rocha de uma forma mais ecologicamente correta do que o atual processo químico usado.
As grandes mineradoras de cobre demonstraram interesse pela pesquisa, mas a Rudanac Biotec, que é beneficiária de um fundo de apoio a startups, necessita agora de novas fontes de investimento para viabilizar o próximo estágio de testes. A meta agora, prevê Reales, é aprimorar o seu método e conferir se a bactéria “comerá uma sucata de tamanho médio ou uma tremonha inteira”.
Fonte: Tecmundo