Levantamento feito pela Folha nas 36 cidades que mais desmatam a Amazônia mostra que cerca de 35% dos candidatos a prefeito são ligados ao agronegócio – pecuaristas, agricultores ou donos de madeireiras. E que, entre os candidatos à reeleição nesses municípios (que historicamente têm mais chances de vencer a disputa), 44% também atuam em alguma dessas atividades.
Distribuídas por Mato Grosso (19), Pará (12), Rondônia (4) e Amazonas (1), as cidades da lista da devastação tiveram ao todo 116 pedidos de homologação de candidaturas a prefeito. Segundo apurou a Folha, no grupo constam 41 candidatos dos setores que mais causam impactos ambientais na região -19 pecuaristas, 11 agricultores e 11 madeireiros.
O PT, com 18 candidaturas, será o partido que mais disputará as cidades da lista. Já o PR, do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, é o que terá mais candidatos à reeleição -nove. Em quatro municípios de Mato Grosso e Pará, a disputa se dará exclusivamente entre representantes do agronegócio. Para candidatos ouvidos pela Folha, ambiente será um ponto essencial da campanha, mas muitos se mostram reticentes à adesão total dos planos federais de reduzir o desmate.
Candidato único em Querência (MT), na região do Xingu, o prefeito Fernando Gorgen (PR) promete “trabalhar” para que o “problema” não inviabilize a economia da cidade. “Se deixar na mão desse ministro aí (Carlos Minc, do Meio Ambiente), nossa cidade acaba”, diz ele, que é produtor rural. O madeireiro Carlos Roberto Torremocha (DEM), candidato em Aripuanã (MT), defende uma visão “menos radical”. “Nosso município não conseguirá sobreviver só da floresta.”
A prefeita de Alta Floresta (MT), Maria Izaura Dias Alfonso (PDT), também candidata à reeleição, reclama da visão distorcida “passada pela mídia”. “Ninguém mostra a realidade. E não temos respaldo algum do governo federal nessa luta.”
A ligação direta entre prefeitos e os segmentos que exploram os recursos naturais em geral dificulta as iniciativas de preservação da floresta, diz o ambientalista Sérgio Guimarães, coordenador da ONG ICV (Instituto Centro de Vida).
“Na maioria das vezes, o eleito entra preocupado em fazer valer as demandas do seu setor. Em cidades que dependem de um modelo econômico insustentável, a tendência é manter esse padrão.” (Fonte: Rodrigo Vargas e João Carlos Magalhães/ Folha Online)