Mangabeira diz que sem estruturas produtivas e sociais será difícil defender a Amazônia

O ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos e coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), Mangabeira Unger, afirmou na quarta-feira (30) que sem estruturas produtivas e sociais organizadas, a Amazônia será um imenso vazio difícil de ser defendido.

“Toda a Amazônia brasileira hoje é um caldeirão de insegurança jurídica. Ninguém sabe quem tem o quê. Para tirar a Amazônia dessa situação, precisamos equipar as organizações que fazem a regularização fundiária na região, simplificar as leis sobre a propriedade da terra e organizar o que diz respeito às propriedades da União. Se os 25 milhões de brasileiros que moram na Amazônia legal não tiverem oportunidades econômicas legítimas, eles passarão a atuar em atividades que devastarão a floresta e a questão ambiental passará a ser um caso de polícia”, disse.

O ministro conheceu na quarta-feira as atividades desenvolvidas pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e se reuniu com oficiais generais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que atuam na região.

Mangaberia Unger ressaltou a relação existente entre a preservação, o desenvolvimento e a defesa da região, e defendeu a necessidade de assegurar aos produtores locais alternativas satisfatórias de trabalho, em conformidade com o bem-estar ambiental.

Na reunião com os oficiais das três Forças Armadas, no Comando Militar da Amazônia (CMA), o ministro revelou que foram debatidos o monitoramento, a mobilidade para circulação na região (terrestre, aérea e fluvial) e o potencial de combate para defesa da Amazônia.

“O monitoramento da Amazônia não é um comércio, é uma necessidade. Não podemos ficar na dependência da tecnologia estrangeira. Temos que ter nossos próprios equipamentos e satélites e integrar os diferentes sistemas de monitoramento existentes no país”, disse o ministro.

De acordo com Mangabeira Unger, até o dia 7 de setembro, ele e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, irão apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um conjunto de propostas relacionadas à defesa da Amazônia.

O ministro Nelson Jobim é presidente do Comitê Interministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa e Mangabeira Unger é o coordenador do comitê.

“Certamente, esse trabalho terá que se desdobrar em iniciativas subseqüentes. É a primeira vez na história de nosso país que a Amazônia ocupa o foco da atenção brasileira e não está sendo vista como retaguarda e sim como vanguarda. A Amazônia não é um problema e sim uma oportunidade e um desafio para repensarmos a nossa estratégia de defesa. Significa estar pronto para desempenhar as responsabilidades de defesa numa série de hipóteses de emprego da força armada e, num caso extremo, se necessário, ter o potencial de conduzir uma guerra de resistência nacional”, afirmou.

O comandante do militar da Amazônia, general Augusto Heleno Pereira, disse que o encontro do ministro Mangabeira Unger com os oficiais generais representou uma reunião histórica.

Ele disse que o Brasil precisa “acordar” para o problema da soberania da Amazônia. O general defendeu a participação de instituições de ensino e pesquisa para conscientizar que a Amazônia precisa de cuidados especiais no que diz respeito à sua preservação.

“As possibilidades de defesa da região amazônica devem ser trazidas para uma discussão nacional ampla e com a participação da sociedade. É uma aspiração nossa que o assunto defesa seja tratado não só pelos militares, mas pela sociedade brasileira. Precisamos que essa discussão saia do âmbito militar e seja tratado no âmbito acadêmico e entre os formadores de opinião, por exemplo. Esse não é um problema que interessa só aos militares, mas à sociedade brasileira”, destacou o general Heleno. (Fonte: Amanda Mota/ Radiobrás)