É fato que nem todas as questões que chegaram em aberto a Poznan, na 14ª Conferência do Clima das Nações Unidas(COP-14), terão sido resolvidas – e nem era este o objetivo do encontro das 183 delegações do mundo todo. Mas uma coisa é certa: mais do que nunca, o Brasil assumiu um dos postos de liderança e de exemplo a ser seguido nas questões ligadas às alterações climáticas.
Os elogios feitos ao País pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-Moon, e o prêmio Nobel da paz Al Gore em seus aguardados discursos vieram para confirmar o que, nas conversas de bastidores com delegados, já se sabia. Embora a postura do Brasil sempre tenha sido respeitada neste tipo de encontro, foi em Poznan que o País mostrou de uma vez por todas para o mundo que seu engajamento na preservação do meio ambiente é sério e, mais do que isso, pode servir de motivação para os demais países em desenvolvimento que ainda não demonstraram igual compromisso.
Na conferência, marcada pela divisão clara de interesses, propostas e expectativas entre os países ricos e os em desenvolvimento, Brasil e China aproveitaram para defender com unhas e dentes as suas posições e a marcar seus espaços entre as lideranças.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, era só sorrisos depois de Al Gore dizer que “o Brasil propôs um impressionante novo plano para enfrentar o desmatamento” e que “os países em desenvolvimento também se tornaram líderes”. Minc atribui à divulgação do Fundo Amazônia e do Plano Nacional de Mudanças Climáticas o sucesso do País no encontro.
– O Brasil, até agora, estava jogando muito na defensiva. Queremos, a partir daqui, assumir um papel de protagonista. Cada país sempre fica esperando movimento do outro, e nós quisemos dar uma jogada no tabuleiro esperando que isso também motive os demais a avançar – resumiu o ministro.
Discretos, os delegados brasileiros, que por duas semanas defenderam os interesses do País, evitam euforia em meio a tantos elogios.
– Infelizmente, ainda está cheio de países, a maioria desenvolvidos, querendo impor um monte de condições e uma série de acertos ainda ficaram para o ano que vem. Mas estamos satisfeitos, sim – afirmou o embaixador extraordinário para Mudança do Clima, Sérgio Serra.
Na prática, o Brasil conseguiu bem encaminhar praticamente todos os seus objetivos iniciais, lembrando que o COP-14 foi uma reunião intermediária entre o início das revisões do protocolo de Kyoto em Bali, no ano passado, e o final das negociações, quando será assinado um novo acordo, em Copenhague.
Da agenda de solicitações brasileiras, apenas as definições sobre o funcionamento da captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês) pelas petrolíferas ficou emperrada. Foi o Brasil quem bloqueou as negociações, ao não concordar com o método e sugerir o aprofundamento das técnicas em decorrência dos riscos ambientais implicados no procedimento. Este foi um dos pontos de choque do País com outras nações, especialmente as árabes, as maiores extrativistas de petróleo.
Por outro lado, as decisões relativas às maiores expectativas, como a inclusão do Fundo de Adaptação e do Redd (Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação), foram ao encontro do que o País esperava.
No final da noite de ontem, pouco antes de os delegados se reunirem para a última vez antes de anunciarem as deliberações finais, a delegação brasileira informou ao Terra que o fundo havia sido inscrito no relatório, embora as formas de financiamento continuem na mesa de negociações no ano que vem. O Redd já havia sido inserido na quarta-feira.
Conferência encaminha Copenhague
O presidente do COP-14, ministro polonês do Meio Ambiente, Maciej Nowocki, bateu literalmente o martelo encerrando as discussões no início da madrugada deste sábado, às 2h38 (11h38 no Brasil).
– Eu firmemente acredito que demos uma mensagem para o mundo com este encontro. Nunca o mundo foi tão longe para preservar o planeta – disse.
Satisfeitos por terem dado forma às propostas, os coordenadores do encontro agora já olham para a nova fase do processo: a definição das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, estipuladas individualmente para cada país desenvolvido e a União Européia, que já deliberou ontem as suas ambições de diminuir entre 20% e 30%, de acordo com o nível de desenvolvimento de cada nação e implementando um sistema de compensação interna de emissões. Extra-oficialmente, 33 países – incluindo os 27 da UE – já demonstraram quais serão seus comprometimentos.
Os países em desenvolvimento não têm obrigação de se comprometer formalmente com metas, mas sim de se engajar para poluir menos e adaptar suas economias para mecanismos mais verdes. Para isso, receberão fundos internacionais, gerados pelo banco Mundial e que podem chegar a US$ 40 bilhões por ano. No entanto, alguns países, como Brasil, se prontificaram a reduzir em 73% o desflorestamento até 2017 e, assim, evitar a emissão de 4,8 bilhões de t de CO2 na atmosfera.
As delegações já têm um novo encontro marcado, em março, na cidade de Bonn (Alemanha). Espera-se para junho a apresentação completa de todas as propostas de redução de emissões.
– Agora é para valer. Os países estão levando os compromissos a sério – resumiu o secretário-executivo do Painel do Clima da ONU, Yvo de Boer.
– O ano passado foi para trocarmos idéias. Este, para negociarmos, e agora temos uma agenda pesada pela frente. Esperamos que todas as coisas boas que foram consenso aqui finalmente entrem no processo de decisões o mais rápido possível – disse.
(Fonte: JB Online)