Só guarda-sol no espaço reverte efeito estufa até 2050

Apenas a injeção de partículas na atmosfera para refletir a luz do Sol de volta ao espaço ou a instalação de objetos em órbita, para bloquear a radiação solar, seriam capazes de reverter o aquecimento global ocorrido desde o início da revolução industrial ainda neste século, diz um estudo publicado online pela revista Atmospheric Chemistry and Physics Discussions (ACPD). Os autores, cientistas da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, fizeram uma avaliação das chamadas opções de geoengenharia para combater o aquecimento global.

“Geogenharia” é o rótulo aplicado às propostas de manipulação em larga escala do meio ambiente.

Recentemente, a revista Current Biology publicou uma proposta de substituição de algumas lavouras por outras, que reflitam mais luz solar de volta ao espaço. O trabalho publicado agora na ACPD não se aprofunda em nenhuma estratégia, mas faz uma comparação dos méritos relativos de diversos esquemas propostos nos últimos anos.

Os autores calcularam, por exemplo, que o uso de “sombrinhas” no espaço ou de partículas refletoras na atmosfera têm o maior potencial de reversão do aquecimento global, mas também traz os maiores riscos, por requerer manutenção constante. Posicionar anteparos no espaço entre o Sol e a Terra exigira a cobertura de uma área inicial de 4,1 milhões de quilômetros quadrados, para bloquear 1,5% da radiação solar e, assim, compensar o excesso de CO2 na atmosfera da Terra. Essa área, no entanto, teria de ser ampliada para dar conta do aumento progressivo do nível de CO2. O artigo estima um aumento de 31.000 quilômetros quadrados ao ano, o que exigiria mais de 130 mil lançamentos anuais de foguetes ao espaço.

Já a injeção de aerossóis – partículas que ficam suspensas no ar – na alta atmosfera exigiria que mais de um milhão de toneladas de enxofre fossem espalhadas no céu. Os autores advertem que essa massa teria de ser constantemente renovada, sob pena de os efeitos do aquecimento global voltarem a se fazer sentir rapidamente.

As melhores opções, de acordo com o artigo, envolveriam medidas menos radicais de geoengenharia, com o uso de “ralos de carbono” – estratégias para capturar e aprisionar o CO2 já presente na atmosfera – e o que os autores chamam de “mitigação forte”, grandes reduções em emissões futuras. Essas combinações poderiam reduzir as temperaturas da Terra a níveis pré-industriais numa escala de séculos.

Medidas para aumentar a quantidade de luz solar refletida ao espaço estimulando a formação de nuvens ou modificando a superfície da Terra – alterando a composição de lavouras ou intervindo em cidades e desertos – seriam mais eficientes para obter redução no aquecimento em escala meramente local, reduzindo, por exemplo, as “ilhas de calor” das grandes cidades, diz o texto.

Já um estímulo à captura de carbono nos oceanos, por meio da fertilização artificial dos mares, só funcionaria numa escala de milênios, de acordo com o estudo.

As medidas de geoengenharia que serão mais eficientes se combinadas à redução de emissões, segundo o relatório, envolvem reflorestamento, produção de carvão pelo aquecimento de biomassa na ausência de oxigênio e o uso de desse carvão como fertilizante, além da captura de carbono diretamente na atmosfera. “A geoengenharia do clima é melhor vista como um complemento em potencial para a mitigação das emissões de CO2, e não como uma alternativa a ela”, concluem os autores. (Fonte: Carlos Orsi/ Estadão Online)