Os cientistas já depositaram a patente do princípio ativo, que poderá ser usado no desenvolvimento de protetores solares mais seguros.
A pesquisa foi coordenada por Iseli Lourenço Nantes e Tiago Rodrigues, ambos professores do Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica da UMC. De acordo com Iseli, o princípio ativo patenteado tem vantagens em relação aos mais utilizados nos protetores solares atuais, como o dióxido de titânio e a banzofenona.
“Pouca gente sabe, mas esses compostos, embora absorvam bem a luz ultravioleta, bloqueando seus efeitos nocivos, energizam o oxigênio do meio, provocando uma ação lesiva colateral. A molécula que utilizamos nas pesquisas não apresenta esse efeito”, disse Iseli à Agência FAPESP.
Segundo ela, quando absorvem os raios ultravioleta, os compostos convencionais ficam em estado energizado por alguns bilionésimos de segundo e, em seguida, transmitem essa energia para o tecido, causando uma ação oxidante. “O nosso composto absorve a luz, mas tem baixa capacidade de transferir a energia ao oxigênio”, explicou.
A descoberta teve origem com o pós-doutorado de Rodrigues, em 2003, realizado com apoio da FAPESP. A partir de então, o grupo começou a investigar as propriedades fotoquímicas das fenotiazinas, dando início, em 2005, a um projeto de pesquisa sobre o tema, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular.
“Não conhecíamos essa propriedade fotoprotetora da molécula. O objetivo era investigar os efeitos das fenotiazinas fotoexcitadas sobre uma proteína. Esperávamos que a fotoexcitação causasse dano na proteína”, disse Iseli.
Os cientistas submeteram a proteína à fenotiazina e à irradiação luminosa. Como controle, a proteína foi irradiada também sem a droga. “Constatamos que, conforme o esperado, havia dano à proteína na ausência da droga. Mas imaginávamos que, com a droga, o dano seria exacerbado e ficamos surpresos quando vimos que, ao contrário, ele era amenizado”, explicou.
Patentes – Durante o processo de registro nacional da patente do princípio ativo, os pesquisadores continuaram trabalhando no projeto e, segundo eles, conseguiram um composto derivado ainda mais eficiente do que o da proposta inicial.
“Conseguimos fazer a tempo a modificação no texto do projeto de patente e recebemos o registro no fim de 2008. Até maio, teremos iniciado o processo de pedido de patente internacional”, contou a pesquisadora. O processo de registro de patentes tem apoio do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI) da FAPESP.
O próximo passo é aprofundar os estudos sobre os efeitos do composto nas células, a fim de comprovar a ausência de efeitos lesivos colaterais. “Estamos trabalhando com esses efeitos atualmente e, para nossa surpresa, os estudos estão mostrando que a substância apresenta, em paralelo, uma ação protetora antioxidante”, disse Iseli.
Quando todos os estudos in vitro forem concluídos, os cientistas darão início aos testes biológicos, em frações celulares. Em uma etapa posterior, serão conduzidos testes em animais de pequeno porte e, posteriormente, em seres humanos.
“Esse processo deverá levar entre cinco e dez anos. Quando todos os testes clínicos forem feitos, vamos buscar uma empresa farmacêutica interessada em comercializar o produto”, apontou.
A pesquisadora destaca que o estudo teve uma importante participação de pós-graduandos e estudantes bolsistas do Programa de Iniciação Científica da UMC, em especial da mestranda em biotecnologia Carolina Gregorutti dos Santos, que divide a titularidade da patente com Iseli e Rodrigues. (Fonte: Fábio de Castro/ Agência Fapesp)