Segundo este estudo, o crescimento demográfico do planeta não é o elemento determinante da mudança climática, mas influenciará em sua evolução e na maneira como as populações se adaptarão a suas consequências mais visíveis, como o aumento do nível do mar, a violência das tempestades e a intensidade das secas.
Os especialistas chegam a dizer no relatório, como exemplo, que um divórcio pode gerar mais emissões de gases do efeito estufa que um nascimento, já que uma família se divide representa depois dois lares, provavelmente dois carros e, em geral, uma situação que significa praticamente duplicar o consumo de energia doméstica.
O diretor da divisão técnica do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, em inglês), Werner Haug, disse que, “se tomarmos o caso de países como Uganda ou Malawi, onde a população duplica a cada vinte anos, podemos imaginar a pressão que isso representa sobre o ambiente, mas também sobre as estruturas de saúde e de educação”.
É evidente, acrescentou, que esse nível de crescimento populacional dificulta a adaptação à mudança climática.
Por isso, o estudo coloca que o arrefecimento do crescimento demográfico contribuiria para reduzir a liberação de gases do efeito estufa na atmosfera.
Sobre isso, Haug explicou que, se em 2050 a população mundial fosse de 1 bilhão de pessoas a menos que o máximo estimado (10,5 bilhões), isso representaria uma redução das emissões equivalente a que se alcançaria se todas as usinas de combustão de carvão fossem substituídas por energia eólica.
Segundo o especialista, o crescimento demográfico representa entre um sétimo e um duodécimo da composição da mudança climática.
“O crescimento demográfico não é o fator principal do aumento das emissões de gases, já que isso está vinculado à industrialização e à utilização de combustíveis fósseis, mas contribui de maneira importante”, disse o especialista, em entrevista coletiva.
Responsabilidade alta – Calcula-se que, de 1850 até hoje, entre 40% e 60% das emissões de gases que geraram o aquecimento do planeta se devem ao crescimento demográfico.
Sobre a influência do desenvolvimento econômico, o relatório ressalta que as famílias em países de alta renda, que costumam ter poucos membros, geram mais gases do efeito estufa que os lares em nações em desenvolvimento, formados, em geral, por mais pessoas.
A influência demográfica na mudança climática se torna ainda mais evidente nos países de economias emergentes e de rápido crescimento, como Índia e China, principalmente se optam por implementar modelos de sociedade que imitam estilos de vida e de consumo do Ocidente.
Além disso, o relatório da ONU ressalta que as mulheres suportam de maneira desproporcional o peso da mudança climática, apesar de serem as que menos contribuem para esse fenômeno.
Isto se confirma, principalmente, nos países pobres, onde as mulheres são a maior parte da mão-de-obra agrícola, costumam assumir a tarefa de conseguir água e lenha para cozinhar e cuidam da família, uma série de atividades que são prejudicadas quando há secas, inundações e outras catástrofes naturais.
Nesse sentido, o relatório indica que oferecer às mulheres acesso à educação e, mais precisamente, à saúde reprodutiva e ao planejamento familiar, poderia ter um impacto muito positivo no combate à mudança climática.
Isso porque as mulheres que se beneficiam dessas ações depois decidem por si mesmas ter menos filhos e com maiores intervalos.
Por isso, Haug defendeu a necessidade de incorporar de maneira mais explícita esses elementos no debate internacional sobre a mudança climática que, segundo ele, está, por enquanto, limitado demais em desenvolver tecnologia e conseguir o financiamento para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. (Fonte: Folha Online)