Após crise, IPCC busca medidas para dar mais precisão a relatórios

O IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, diz estar trabalhando numa estratégia para aumentar o rigor científico de seus relatórios e controlar melhor os especialistas que produzem suas revisões.

Segundo o diário americano “Wall Street Journal”, o presidente do IPCC, o economista indiano Rajendra Pachauri, afirmou que o comitê “não vai poupar esforços para produzir um conjunto de medidas para assegurar isso”.

Ao mesmo tempo, a Organização Meteorológica Mundial (entidade à qual o IPCC é ligado) e o Met Office, o serviço meteorológico do Reino Unido, concordaram, num encontro na Turquia, em aumentar a precisão da coleta de dados meteorológicos como parte de um esforço global de monitorar melhor a mudança climática.

A coleta desses dados, que baseiam os modelos climáticos usados nos relatórios do IPCC, deve se tornar mais frequente e mais transparente.

Crise – As medidas foram anunciadas para tentar contornar a crise de confiança na qual o IPCC e os cientistas do clima mergulharam desde o fim do ano passado, quando erros foram encontrados no relatório de 2007 que deu ao painel de 2.500 climatologistas o Prêmio Nobel da Paz.

O mais grave deles – uma previsão exagerada sobre o degelo do Himalaia – foi a princípio negado por Pachauri, depois admitido.

O episódio agravou a desconfiança do público na ciência do clima.

Esta já vinha abalada desde novembro, quando um arquivo de e-mails roubado de um centro climatológico britânico revelou trocas de e-mails nas quais cientistas declaravam que tentariam impedir que pesquisas produzidas por negacionistas do aquecimento global fossem avaliadas pelo IPCC.

Nem mesmo o chefe da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, poupou críticas ao painel.

“O IPCC tem procedimentos internos muito sólidos, mas claramente esses procedimentos não foram aplicados”, disse De Boer à Folha na última terça.

No entanto, ressaltou, as conclusões fundamentais do painel sobre a mudança climática e o papel dos humanos nela não estão sob questão.

“Nós certamente não nos sentimos confortáveis com a perda de um pingo de confiança”, disse Pachauri.

O Met Office, que produziu um dos modelos climáticos usados pelo IPCC, disse que a melhora nos dados provavelmente não resultará em nenhuma mudança considerável nos modelos existentes, mas poderá dar aos cientistas um melhor entendimento dos extremos de temperatura e do que os humanos podem fazer para se adaptar a eles. (Fonte: Folha Online)