Pesquisadores nos EUA, entre os quais um brasileiro, dizem ter encontrado uma maneira de tornar a energia dos ventos muito mais confiável.
O plano é distribuir turbinas ao longo de pouco mais de 1.000 km da costa americana, interligando esses “supermoinhos” de maneira que não haja grandes flutuações na produção de eletricidade mesmo quando o tempo no litoral muda.
A equipe, liderada por Willett Kempton, da Universidade de Delaware, simulou a ideia usando cinco anos de dados, obtidos em 11 estações meteorológicas da Costa Leste dos EUA.
E a coisa parece funcionar, conforme detalha o artigo do grupo na edição desta semana da prestigiosa revista científica “PNAS”. Pode ser um caminho para tirar do papel a promessa de eletricidade “limpa” trazida pela energia eólica.
Trata-se, aliás, de uma promessa das mais sedutoras. Levando em conta apenas os ventos que sopram nos continentes, calcula-se que o potencial eólico do planeta alcance 72 TW (terawatts) de energia, enquanto todas as necessidades energéticas da Terra hoje podem ser satisfeitas com 13 TW.
De lua – Aproveitar os ventos em áreas litorâneas, por meio de turbinas flutuantes, pode ser mais vantajoso ainda, já que tanto a intensidade quanto a frequência dos ventos tende a ser maior.
Contudo, tanto no mar quanto em terra firme, um dos principais desafios para explorar esse potencial e deixar de lado fontes de energia poluidoras e causadoras do aquecimento global, como as termelétricas, é garantir que o vento não deixe a rede elétrica na mão.
Se cada central eólica for usada isoladamente, o sistema elétrico teria de absorver flutuações bruscas e indesejáveis oriundas da falta de vento ou do excesso durante tempestades.
Na simulação feita pela equipe de Delaware, que inclui o oceanógrafo brasileiro Felipe Mendonça Pimenta, os pesquisadores mostram que é possível superar esse problema dispondo as turbinas eólicas de norte a sul da costa atlântica americana e conectando-as numa única grande rede.
Solução – O tamanho da rede, mostraram eles, é importante: em distâncias superiores a 1.000 km, é possível escapar das flutuações locais nos ventos, já que, em pelo menos em algum ponto do sistema, haverá ventanias suficientes para produzir energia.
De acordo com o estudo, embora a rede esteja sujeita a altos e baixos mesmo assim, as variações quase nunca serão radicais o suficiente para que haja um excesso muito grande ou uma falta muito grande de energia. A distância entre as pontas da rede também permitiria mais planejamento na distribuição de energia.
O motivo é simples: enquanto uma variação da intensidade dos ventos é “sentida” numa das pontas da rede, outras áreas podem ir se adaptando à variação com relativa calma conforme a mudança de tempo se aproxima.
E quanto ao custo de unir uma imensa região da costa americana por meio de grandes cabos elétricos? Os cientistas calculam que montar a rede custaria, proporcionalmente, mais ou menos a mesma coisa que ligar cada unidade geradora ao sistema elétrico tradicional. Seria, portanto, viável. (Fonte: Folha Online)