A decodificação do genoma da rã africana, anunciada nesta quinta-feira (29), deve permitir à ciência proteger melhor os anfíbios, classe em rápido declínio no mundo, e permitir avançar na compreensão das doenças humanas.
A Xenopus tropicalis se soma, assim, à lista de mais de 175 organismos cujo genoma foi decodificado desde 2001, entre os quais o do ser humano, o da abelha, o da vaca, o do frango, o da ratazana e o do camundongo.
Os cientistas da equipe internacional que trabalhou no sequenciamento descobriram que o genoma desta rã tem de 20.000 a 21.000 genes, dos quais mais de 1.700 são muito similares aos que no homem estão relacionados com o câncer, a asma e as doenças cardíacas.
Comparativamente, o genoma do homem tem 23.000 genes, afirmaram estes cientistas, cujo trabalho será publicado na edição desta sexta-feira da revista científica americana “Science”.
“Esta decodificação é um importante ponto de partida para se começar a trabalhar verdadeiramente com a Xenopus para compreender o funcionamento dos genes e como interagem durante o desenvolvimento das doenças”, destacou Jacques Robert, imunologista da Faculdade de Medicina da Universidade de Rochester (Nova York), coautor do estudo.
“A Xenopus é muito promissora e deve tornar-se um modelo de pesquisa muito poderoso para nos ajudar a compreender melhor como funcionam nossos próprios genes”, acrescentou o pesquisador, em um comunicado.
A decodificação desta pequena rã africana também abre a possibilidade de se estudar, ao nível molecular e genômico, os efeitos dos produtos químicos provenientes da contaminação ambiental, que perturbam o funcionamento das glândulas endócrinas dos anfíbios, afirmou Uffe Hellsten, bioinformático do “Joint Genome Institute”, que integra o Departamento de Energia americano, que coordenou as pesquisas.
“Estas substâncias químicas imitam os hormônios das rãs e sua presença nos lagos e cursos d’água poderia ser, em grande parte, responsável pelo declive das populações de rãs em todo o mundo”, acrescentou o cientista.
“É preciso esperar que a compreensão dos efeitos destes perturbadores hormonais ajude a preservar a diversidade das espécies de rãs e tenha também um impacto positivo para a saúde do homem, já que estas substâncias também afetam nosso organismo”, observou.
Uma comparação das áreas em torno dos genes específicos da rã, do frango e do homem revela semelhanças surpreendentes que indicam que estruturas genéticas nos cromossomos destas espécies diferentes se mantiveram inalteradas ao longo da evolução.
“Quando se veem segmentos do genoma da Xenopus, podemos ver literalmente estruturas genéticas com 300 milhões de anos de antiguidade que pertencem ao genoma do último ancestral comum entre todas as aves, rãs, dinossauros e mamíferos que pisaram a Terra”, explicou Uffe Hellsten.
“Pareceria, assim, que a fragmentação e relocalização dos cromossomos são extremamente raros na evolução”, acrescentou.
A Xenopus é um tipo de rã que reúne mais de 20 espécies na África subsaariana.
Cerca de 50 cientistas de 24 institutos de pesquisa em todo o mundo participaram deste projeto, financiado pelos Estados Unidos.